22.10.13

O mar, o vento


Se eu pudesse trazia na bagagem a comida que mais gostei de todos os lugares que conheci. Adoro ser turista no meu país. Quanto mais conheço Portugal mais me apaixono por ele, pelas suas tradições, gastronomia, paisagem, hotelaria. De Sesimbra trouxemos licor, mel, pólen, abóbora cor de mel, e o coração tão cheio de coisas essenciais. Adormecer com o barulho das ondas, andar descalça na areia e fechar os olhos para o sol em Outubro. Ouvir as gaivotas a rasgar o céu azul. Comer peixe tão fresco e sopas tão ricas. Ler Corto Maltese a sentir o sol queimar as bochechas. Lutar contra o cansaço que teimosamente acumulei. Anoitecer sobre a maré e o teu olhar atento. E ter a certeza que aquilo que somos, fomos apenas até aí. É assim que sou agora e é assim, só assim que estou bem.


"[...]
Escuta, Amor 
Quando damos as mãos, somos um barco feito de oceano, a agitar-se sobre as ondas, mas ancorado ao oceano pelo próprio oceano. Pode estar toda a espécie de tempo, o céu pode estar limpo, verão e vozes de crianças, o céu pode segurar nuvens e chumbo, nevoeiro ou madrugada, pode ser de noite, mas, sempre que damos as mãos, transformamo-nos na mesma matéria do mundo. Se preferires uma imagem da terra, somos árvores velhas, os ramos a crescerem muito lentamente, a madeira viva, a seiva. Para as árvores, a terra faz todo o sentido. De certeza que as árvores acreditam que são feitas de terra. 
Por isto e por mais do que isto, tu estás aí e eu, aqui, também estou aí. Existimos no mesmo sítio sem esforço. Aquilo que somos mistura-se. Os nossos corpos só podem ser vistos pelos nossos olhos. Os outros olham para os nossos corpos com a mesma falta de verdade com que os espelhos nos reflectem. Tu és aquilo que sei sobre a ternura. Tu és tudo aquilo que sei. Mesmo quando não estavas lá, mesmo quando eu não estava lá, aprendíamos o suficiente para o instante em que nos encontrámos. 
Aquilo que existe dentro de mim e dentro de ti, existe também à nossa volta quando estamos juntos. E agora estamos sempre juntos. O meu rosto e o teu rosto, fotografados imperfeitamente, são moldados pelas noites metafóricas e pelas manhãs metafóricas. Talvez outras pessoas chamem entendimento a essa certeza, mas eu e tu não sabemos se existem outras pessoas no mundo. Eu e tu declarámos o fim de todas as fronteiras e inseparámo-nos. Agora, somos uma única rocha, uma única montanha, somos uma gota que cai eternamente do céu, somos um fruto, somos uma casa, um mundo completo. Existem guerras dentro do nosso corpo, existem séculos e dinastias, existe toda uma história que pode ser contada sob múltiplas perspectivas, analisada e narrada em volumes de bibliotecas infinitas. Existem expedições arqueológicas dentro do nosso corpo, procuram e encontram restos de civilizações antigas, pirâmides de faraós, cidades inteiras cobertas pela lava de vulcões extintos. Existem aviões que levantam voo e aterram nos aeroportos interiores do nosso corpo, populações que emigram, êxodos de multidões famintas. E existem momentos despercebidos, uma criança que nasce, um velho que morre. Dentro de nós, existe tudo aquilo que existe em simultâneo em todas as partes. 
Questiono os gestos mais simples, escrever este texto, tentar dizer aquilo que foge às palavras e que, no entanto, precisa delas para existir com a forma de palavras. Mas eu questiono, pergunto-me, será que são necessárias as palavras? Eu sei que entendes o que não sei dizer. Repito: eu sei que entendes o que não sei dizer. Essa certeza é feita de vento. Eu e tu somos esse vento. Não apenas um pedaço do vento dentro do vento, somos o vento todo. 
Escuta, 
ouve. 
Amor. 
[...]"
José Luís Peixoto in "Abraço"

Oeiras Parque



Estas e outras actividades no mês de Outubro, aqui.

21.10.13

Super


Estamos a decorar um dossier para a escola. Decidimos fazer uma capa de super-heróis, com um Afonso «Supersurfer» que ele próprio inventou, em cima de uma prancha (neste caso skate) por sua vez em cima de uma onda e com direito a capa e tudo.

Os restantes autocolantes, balões e interjeições têm tudo a ver com BD, livros, desenhos animados, vilões e finais felizes. Para fazer o título procurei uma fonte do Super Homem para Word, não tendo encontrado exatamente o que queria acabei por encontrar muitas outras bem giras neste site, onde têm inclusivamente o tipo de letra dos vários desenhos animados, do Mickey às Turtles, o download é gratuito e vale a pena uma visita.

18.10.13

Cerâmicas da Linha


Adoro a nossa cerâmica, é bonita, é durável e tem qualidade. Gosto dos produtos que por tradição fazemos bem, que resultam lá fora, e que dá gosto privilegiar cá dentro.

Adorei por isso conhecer a Cerâmicas na Linha em Oeiras, onde a loiça é vendida a peso. Levei lá a Juliana no outro dia (mais como pretexto) e um Afonso em modo stress-de-final-de-semana-depois-das-aulas a correr pelos corredores como se não houvesse amanhã. Fiquei apaixonada pelo espaço e pelo conceito. As peças giras e modernas: das chávenas de chá com um passarinho; às terrinas em forma de coração; travessas de servir de todos os formatos e cores; pratos de bolo e mesmo a loiça corrente. Os preços convidativos e a simpatia do atendimento própria de quem gosta do que faz, deixam vontade de voltar. Neste Natal vou optar por este tipo de comércio, justo, de qualidade mas acima de tudo Nacional.

17.10.13

Beleza

 
Descobrimos um café expresso fantástico com travo a caramelo, nuns kits de degustação da Dolce Gusto. As minhas manhãs já não são iguais. A cozinha fica perfumada e tudo parece melhor, mesmo aqueles dias que começam cinzentos. Os novos registos têm 30% desconto nas encomendas online até ao final do mês, é de aproveitar.
 
Agora às Terças somos cinco, e a alegria (confusão) é redobrada durante a semana. São os horários diferenciados para acordar e tomar banho, a confusão das mochilas e dos lanches, os pequenos-almoços todos diferentes, o stress matinal para chegar a horas com Chocapic entornado na farda ou alguém que se deixou dormir mais uns minutos. Nestes dias em que saímos com tudo virado do avesso sabe bem chegar a casa e ter tudo no sítio outra vez. Abençoada Rosa.
  
Ontem foi assim. E depois do jantar da véspera, e do almoço de trabalho entre amigos, a refeição queria-se leve. É dia em que o Afonso vem depois de jantar e em que há tempo para tudo, até para cozinhar calmamente. Grelhei legumes, pimentos italianos e tomate, e ainda a carne, barrei o pão do momento com Dijon e juntei folhas de aipo e cebola em tiras. Uma sopa de abóbora cremosa e estava feito o jantar.
 
Brincar aos polícias e ladrões, escovar os dentes e ler a história abraçadinhos e com muito, muito namoro antes de dormir. O mimo nas doses certas é terapêutico. Estes dias custam tanto «Mãe és o meu amor, é o nosso segredo». Afonso o amor não precisa ser segredo. E nisto começamos a ouvir uma voz num megafone na rua e não o consigo adormecer com tanto barulho. Vestimos os robes, abrimos o portão. Na rua dezenas de devotos rezam alto com velas na mão, é uma procissão. No final o altar, e a Imagem Peregrina, feita segundo indicações da irmã Lúcia. Parecem outros tempos, parece uma aldeia. E o Afonso a achar um piadão.
 
No final fomos dormir com um sorriso rasgado e o coração cheio de coisas boas. Para onde quer que eu olhe, vejo beleza.

16.10.13

Sushi


Temos tendência a fazer programas a alinhar pelos mais novos. Afinal as limitações com a idade de entrada são deles e são eles os menos pacientes. A mais velha ressente-se. Os filmes da Disney têm graça, mas, de vez em quando, era giro mudar. Depois há questão das preferências e aí a coisa complica-se mais ainda. A Mafalda tem uma alimentação específica e é mais maria-rapaz nas brincadeiras. O Afonso é rapaz e pequeno e as birras ainda são controladas, pelo que é mais fácil de levar. Como agradar a todos?

Ontem fomos ao Sushi em família. Estava prometido à Marta. Já sabíamos que com a Mafaldita e com o Afonso seria um desafio. Fomos a um sítio onde há comida para todos os gostos, até batata frita, e fizemos de tudo uma festa. Todos tentaram comer com pauzinhos e no final ganharam um diploma. O próximo sushi seremos nós a fazer para eles, que no próximo fim-de-semana há workshop.

Entretanto ficou combinado, vamos tentar ir a um restaurante de um país diferente uma vez por mês e aproveitar para falar com eles da cultura desse país. Para a próxima vamos experimentar um restaurante mexicano!

15.10.13

Cenas ao Domingo

Imagem Freeport

Aos Domingos o Freeport propõe agora sessões de teatro gratuitas, limitadas a um adulto por criança, e com inicio às 12h. Se já há calças curtas lá em casa, camisolas a precisar de substituição, ténis com solas vergonhosas, junte o útil ao agradável e transforme as compras num passeio. 

13.10.13

Coisas boas


A Juliana já regressou ao Brasil e eu já estou com saudades. O tempo é sempre ingrato para quem se quer tanto. O regresso fico previsto para breve e a sensação foi, apesar de tudo, nova - eu estou feliz. A família adorou-a, sobretudo o Afonso que se derreteu em beijos e sorrisos para ela, os outros amigos reviram-na num magusto antes da época improvisado e a Ju já vai estando em casa, porque já conhece estas caras. 

Pela primeira vez não corri com ela trinta e tal museus em poucos dias. Pela primeira vez deixei a Juliana dormir uma manhã inteira. Pela primeira vez aproveitei para estar mais com ela do que em mil visitas contra-relógio.

Na Sexta fizemos uma noite portuguesa, com pastéis de bacalhau, nosso, música portuguesa e sessão de cinema nacional em casa. Foi muito bom. O excesso de calorias dos últimos dias foi directamente proporcional ao paladar. A Ju ficou fã das nossas sopas, entradas, e pratos, mas também do nosso Santini

E agora é esperar que a vida lhe sorria muito e que o tempo não demore tanto a passar.

12.10.13

Greenfest 2013


Foi a primeira vez que fui ao Greenfest sem o Afonso, e embora tenha sido mais descontraído sem miúdos, e tenha dado para espreitar calmamente os workshops a decorrer, senti a falta deles. Este continua a ser um evento muito giro para famílias. É um evento verde, perto de casa e totalmente gratuito. Tem sempre actividades para os mais pequenos, com personagens a animar. E se o ano passado eles jogaram mini-golfe, desta vez havia uma montanha para escalar, bicicletas para andar e um carro para pintar, entre muitas outras actividades. A oferta para os crescidos é ainda mais variada, com ateliers e worshops, da culinária, à gestão do stress. A FIARTIL junta-se ao evento e abre portas com negócios ecológicos. Com o tempo bom a convidar a pausa foi no Santini. Depois de encontrarmos caras conhecidas, voltámos para casa com um saco cheio de brindes: T-shirts; lápis de cor; blocos de notas; cantis e um CD’s da Leopoldina; a Magazine do Continente, e claro com vontade de voltar para o ano. 

10.10.13

Hoje é o dia



A Juliana foi a minha melhor amiga na pré-adolescência. Minha confidente das primeiras paixões, a minha irmã emprestada, a parceira das idas ao cinema ao Sábado à tarde ao Carcavelinhos e às Palmeiras. Era ela a minha companheira dos trabalhos de grupo, e minha aliada na falta de jeito em Educação Física (e se tinha muito mais do que eu). Sempre foi um modelo para mim, excelente aluna, cadernos e apontamentos sempre impecáveis. Falava várias línguas, tinha inclusivamente aulas de alemão em casa com os irmãos, até me ensinou as poucas palavras que ainda hoje sei. Nunca duvidei que seria uma mulher de sucesso. Partilhámos as nossas angústias de puberdade, as primeiras borbulhas mas também as mudanças físicas mais estranhas, o desconforto de nos adaptarmos à mudança de idade num colégio mais rígido do que seria desejável. Éramos ambas demasiadamente magras e inseguras. Pouco antes de eu fazer 13 anos, o pai da Juliana decidiu regressar ao Brasil, foi um enorme choque. Lembro-me de chorar abraçada a ela no último dia num Hotel no Estoril e de prometermos à porta do elevador que iríamos escrever uma à outra todos os dias. Fiquei doente e perdi o apetite durante imensos dias depois dela partir. A adolescência e a amizade têm destas coisas.

Os anos passaram e mais amigos partiram para longe, uns cá dentro outros lá fora. Não mantenho contacto com todos, mas é curioso que os mais importantes acabam por ficar presentes, de uma forma ou de outra. O Afonso era ainda pequenino quando a conheceu e não se recorda mas acha imensa graça ser uma amiga da mãe da altura da escola.

Durante os primeiros anos eu e a Ju trocámos postais e cartas com uma frequência que embora tenha diminuído nos anos seguintes se manteve depois disso inalterada. Nos anos e no Natal eu tinha sempre um postal dela para ler. Contámos uma à outra as coisas mais importantes da nossa vida por carta e em todas as que abri chorei de saudades. O aparecimento da Internet revolucionou a minha noção de proximidade, e pensando bem acabei por manter a minha promessa porque todos os dias lhe escrevo. Foi assim que ao fim de 15 anos fui buscar a Juliana ao aeroporto de Lisboa e ao final de 5 minutos parecia que nunca tinha estado longe dela. Depois disso já nos revimos outras vezes. Casei, fui mãe, mudei de casa, descasei e ela quase casou, mudou de emprego e deu a volta ao mundo. E hoje depois de mais um período de ausência a Ju chega ao pé de mim outra vez e eu sinto-me de novo adolescente, ansiosa e feliz com a expectativa da sua chegada. 

9.10.13

Play - Festival Internacional de Cinema Infantil e Juvenil de Lisboa

Imagem Play

Aqui fica mais uma ideia gira, daquelas que eu gosto muito. Cinema infantil e juvenil nos dias 12 e 13 no Jardim da Estrela, para aproveitar os últimos dias de sol lá fora e em família.  São várias curtas metragens com a duração aproximada de 15 minutos, a escolher entre as: 10h30 • 11h30 • 12h30 • 14h30 • 15h30 • 16h30 • 17h30. 

Mais informações aqui e a programação aqui.

8.10.13

Era uma vez


Ontem foi a reunião de pais e foi bom estarmos juntos neste início de ano para sabermos deles. Cresceram tanto, todos. É giro rever a cara dos pais, já nos vamos conhecendo de outras reuniões, encontros e festas de anos. A Dina faz sempre umas actividades para nos «deixar» (ou não) à vontade, e lá vamos criando aquela cumplicidade típica de pais aflitos. Ontem foi contar uma história com um fósforo a arder na mão, a ideia era sermos rápidos, porque os miúdos perdem a concentração facilmente. Este jogo insere-se no tema da turma deste ano, que é o «Era uma Vez». Aos pais vai ser pedido que representem na turma um dia, e que venham noutro falar da sua profissão. O projecto, diz a Dina, é fazê-los sonhar, ouvir histórias, representar teatros, valorizar os livros. Vamos fazer uma biblioteca, e vamos levá-los à biblioteca.

Lá em casa já fazemos isso, já lemos muitas histórias, sobretudo antes de dormir. Ultimamente andamos a ler histórias dos grandes compositores, uma colecção de livros que a avó Cila em tempos fez do Expresso. Do compositor que descobrimos à noite ouvimos o CD no carro na manhã seguinte a caminho da escola. O que o Afonso mais gostou até agora foi Verdi. No dia da música a Dina levou estes mesmos livros para a aula, e pintou claves de sol e pautas na cara deles. 


Como é que acaba esta história? Acaba assim: Era uma vez uma escola gira, cheia de miúdos engraçados, com uma professora criativa e uns pais cheios de boa vontade, e juntos viveram um ano lectivo cheio de magia. Vitória, vitória...

5.10.13

Sábado



Acordámos cedo e com vontade de andar por Lisboa. (Re)visitámos Saramago numa casa que é sua. Da Conserveira trouxemos o que imaginámos e o que entretanto descobrimos. Do Martim Moniz à Baixa, daí ao Campo das Cebolas, Rua da Madalena e Martim Moniz outra vez. Por aqui assentámos arraiais com apetite e genuína vontade de descansar. Comidas do mundo, uma esplanada num dia sol, e música boa. Por ali ficámos até nos apetecer. Em seguida Graça e depois Chiado. Vintage Bazar. Café na Brasileira. Música nas Praças, S. Carlos com miúdos cheios de talento, Ruínas do Carmo cheio e com vozes feitas de estrelas de céu. Uma feira do livro usado entre a Bertrand e A Vida Portuguesa, e duas BD's a regressarem connosco para casa. 

Foi bom ver Lisboa assim, cheia de movimento, iniciativas, pessoas, cultura e vida. 

4.10.13

Fim-de-semana


Objectivo – encher o coração de coisas boas. Sentir o prazer de não me deixar corromper por pressões que não sejam as determinantes à nossa felicidade. Deixar-me levar por abraços intermináveis e ter fé em tudo o que sejam palavras bonitas e a terminar em «inho», porque este dia é um arco-íris e o sol decidiu brilhar. Aproveitar estes nossos dias para namorar e fazer projectos. Correr. Tomar pelo menos um banho de espuma a ouvir música. Cantar no carro alto e mal porque ninguém me está a ouvir. Fazer pratos novos, com poucas calorias mas ricos em sabor. Sopas. Cozinhar aqueles pimentos italianos deliciosos e enormes, que descobri no Lidl. O nosso novo chá de baunilha. Dormir muito, ler mais ainda. Corto, álbuns novos. Passear por aqui e por aqui. E no final do dia enroscar-me na manta mais macia do mundo, a ver episódios gravados de séries que gostamos. 

Leite Aptamil


É de aproveitar o desconto em leite Aptamil 4 e 5 até Domingo em talão Continente. As caixas trazem de oferta uma embalagem de cereais de trigo integral, com opção entre mel e chocolate. 

3.10.13

Eu e os super-heróis


Travo uma luta titânica com os super-heróis. É uma luta antiga e um bocado inglória. Afinal de contas eu sou apenas uma mãe e eles são SUPER-HERÓIS. A questão é que eu gostava que eles usassem menos armas, lutassem menos e fossem menos violentos, mesmo que em causa esteja o planeta Terra e a população mundial. Mas isto sou eu e os super heróis podem mais do que eu. Desde miúdo que o tento proteger o Afonso destas coisas, ao ponto dele quando está a brincar com outros rapazes usar uma asa de frango de plástico para fazer de pistola. Eu sei que não o posso proteger para sempre, que ele é rapaz e que estas coisas fazem parte, mas no meu entendimento ele tem tempo e há tantas alternativas menos violentas. Quando me divorciei a psicóloga da escola que avaliou o Afonso falou-me nisto, de como podemos oferecer-lhes alternativas para não promover a violência numa altura mais conturbada. Hoje é o Afonso que diz, mãe estes desenhos são para crescidos. Sei que no pai os hábitos não são iguais aos da casa da mãe. Sei que na escola brincam aos Gormitis e mesmo com o «mano do coração» a brincadeira preferida é ao Star Wars, mas também sei que os sabres de luz não existem, e que nele, Afonso, vence sempre o lado bom da força. O Afonso é um menino meigo e amoroso, e enche-me de orgulho que seja beijoqueiro e meloso, e que diga à boca cheia «Eu amo-te mamã.» sem reversas nem complexos. Tenho consciência porém, que em certas ocasiões me vai surpreender com o que já sabe, e vai sempre arranjar formas mais elaboradas e criativas de contornar as minhas regras. Ontem de manhã imitava um zombie com os braços levantados, e quando lhe perguntei como é que ele sabia que os zombies andavam e faziam assim, falou-me nuns bonecos que a avó deu. Até eu já cedi num ou noutro brinquedo, que não vendem as tartarugas Ninja sem os seus acessórios, mas, se eu puder, vou prorrogar esta fase de inocência mais um bocadinho (até aos 18 era o idealJ). É que as guerras, as armas químicas, o buling, não são infelizmente ficção científica e é tão bom ser criança e não conhecer ainda esta realidade.

Sei no entanto que cada vez será mais difícil a minha luta. Afinal de contas como é que eu explico ao Afonso que brincar com espadas é feio se o Zorro usava uma? E que não devemos lutar como o Super-homem, quando ele até salva as pessoas?

30.9.13

Votar


Ontem fomos votar, fomos com os miúdos e cheios de orgulho. A mamã que está afixada desde a semana passada num panfleto na porta do frigorífico, era para estar a trabalhar, mas as mudanças de mesa trocaram-nos as voltas. Fui votar pela primeira vez nesta mesa e nesta escola, e levei pela primeira vez um Afonso curioso e consciente. Pelo caminho lá fomos explicando que é muito importante votar, e votar em consciência, mesmo que não nos identifiquemos com nenhuma das opções propostas. É importante votar, mesmo que em branco. Gosto de promover a consciência de que o voto é não somente direito, pelo qual muitas gerações lutaram, mas também uma obrigação cívica. O voto é a nossa forma de representatividade e sinónimo que vivemos num país democrático. Não consigo compreender um «Não fui votar porque estava a chover muito.», do mesmo modo que não compreendo a vitória consecutiva e retumbante da abstenção, num país marcado pelas manifestações e greves ao longo do ano. Se esta é a nossa voz, porque não a usamos?

O Afonso já viu como é, agora só falta crescer.




29.9.13

Amarelo


Passámos o Verão a falar de piqueniques aos miúdos, e por um ou outro motivo fomos adiando. No fim-de-semana passado visitámos o Buddha Eden e lá fizemos o tão aguardado piquenique, mas sem miúdos. O Afonso ficou inconsolável, que eu não podia ter feito piquenique sem ele, onde me fui meter. Daí que combinámos repetir a coisa neste fim-de-semana, é que deste não passava. Estavam, Mafalda e Afonso, em êxtase e não é que se põe este tempo? É que só dá vontade de chá, chocolate quente, biscoitos, jogos de tabuleiro e filmes no sofá, mantas quentinhas e pantufas o dia todo. Piquenique? Só se for na relva da sala.

O sol hoje não espreitou lá fora, mas cá dentro foi amarelo por todo o lado, nas Waffles do pequeno-almoço com doce de pêra da mamã, no bolo de limão e iogurte e nas meias que avó Cila comprou para o Afonso e para a mamã. É oficialmente Outono. 

26.9.13

Rota das artes

Rota das Artes, Pedro e o Lobo

Estou desejosa desta noite, e deste programa. Vamos ver o «Pedro e o Lobo» de Prokofiev aqui graças ao Estrelas e Ouriços. Quando era mais miúda herdei uns livros enormes que traziam uns discos vinil e uns desenhos lindíssimos, cheios de pormenor, com diversas histórias. É daí que me recordo do «João Pé de Feijão» e deste «Pedro e o Lobo». Eu julgo que eram da Disney, sempre me agradaram as árvores da Disney de todas as cores do arco-íris. 

Esta semana terminámos, Afonso e eu, de ler o livro do Gerónimo Stilton, e decidi continuar na mesma onda de livros para mais crescidos, afinal de contas já se impõem outras histórias e o Afonso é tão curioso. Começámos então a ler uma colecção de livros dos grandes compositores e começámos logo por Beethoven. Aprendemos como Ludwig quer dizer Luis e Beethoven horta de beterrabas, como teve tantas namoradas que o seu «Para Elisa» era na verdade para Teresa, e como mesmo surdo continuou a compor sinfonias magníficas. No final do livro fiz-lhe perguntas de despiste, e deduzi que percebeu a maior parte da história. De manhã, no carro para o colégio, fomos a ouvir o CD, e depois de ver o olhar desconsolado do Afonso pelo retrovisor perguntei «Então Afonso, não estás a gostar? Não era o que estavas à espera?» ao que respondeu «Não mamã. Esta música deixa-me triste.» - Não é precioso
Mudei imediatamente de música para a Sinfonia N. 5, e comecei a orquestrar com o dedo, o Afonso a rir disse «Esta parece que vai acontecer qualquer coisa perigosa mamã.». 

Não é a primeira vez que o Afonso assiste a um concerto de música clássica, na verdade mesmo em bebé assistiu a alguns concertos de Música Clássica para Bebés no Olga Cadaval em Sintra, no entanto sinto que é agora que começa a formular as suas opiniões e eu quero estimulá-lo ao máximo para que opine e faça as suas escolhas sozinho. 

25.9.13

Hoje


Hoje é um dia especial. É um dia nosso, sem miúdos. Um dia para celebrar o que demorámos tanto a encontrar. Hoje é um dia que se deseja sem stress, para saborear sem pressa e com calma. Hoje sinto-me extremamente abençoada e feliz. Hoje vamos festejar com coisas simples que nos são caras e dão aos dois um gosto especial. Hoje podemos chegar mais tarde a casa, não temos horas nem obrigações. Hoje celebro esta alegria imensa de ser tão feliz ao teu lado, do tanto que lutamos por isso, do quanto merecemos. Hoje será o que nós quisermos mas sempre um recomeço porque o amor não é um lugar mas uma viagem. No final do dia quando olho para ti, sei que vale a pena, que só assim faz sentido. Hoje o Catarina é para dois, e qualquer palco é oportuno desde que me dês a mão. 

Throttleman & Kidzania

Imagem mailing Throttleman

24.9.13

Saudades


Adoro, quando vamos os cinco a correr para a fotografia e das várias tentativas até que fiquem todos bem. Da preparação que uma fotografia automática exige e de como, ao final de muitos amuos, reclamações e risotas lá conseguimos ter uma de jeito que todos gostam e querem ficar.

Este tempo faz-me sentir gigantes saudades do Verão. Saudades de estar dentro de água a brincar com os miúdos, ou na praia a comer uma bola de Berlim com creme e sem remorsos. Este tempo esquisito que não é nem deixa de ser, abafado e húmido, faz-me sentir saudades de acordar sem horas, e dos dias ditados pela comida dos miúdos e pelas sestas, e pela recolha obrigatória nas horas de maior calor.