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4.12.20

Fazedoras de Histórias



Chamam-se Fazedoras de Histórias e, só por isso, já apetece ler. Se ficaste curioso, pega numa manta neste dia frio, junta-lhe um chocolate bem quentinho e anda daí saber do que falo. 

Este é um projeto querido, de produção editorial de autor, que nasceu no ano de 2016, no distrito de Setúbal. Tudo começou com a edição do livro infantil «Grãozinho de areia» com as palavras de Joana Maurício e os desenhos de Cristina Arvana. Esta é a história de um grãozinho de areia e da sua viagem pelo fundo do mar em busca do seu lugar. Uma mensagem perdida numa garrafa acaba por ser a responsável pela amizade dos dois protagonistas. «Caiu de Mansinho» foi o título que se seguiu a este encontro feliz. Com uma tiragem mais pequena de 300 exemplares e impresso por risografia (um método mais tradicional), rapidamente esgotou. 

No ano passado foram desafiadas pela arquiteta Joana Barrelas a fazer a produção de «Uma Casa» e é assim que nasce o primeiro titulo enquanto produtoras independentes. Este livro fala-nos da importância de termos um sítio onde nos sentimos seguros. Fala também de mudança e é uma história muito atual neste contexto da pandemia em que aprendemos a valorizar ainda mais este nosso espaço. 

E foi assim de mansinho, grão a grão, que Joana e Cristina foram construindo esta «casa conjunta» de produção de histórias. Dinamizando atividades de leitura em contexto educativo e não só, vão levando a magia aos mais pequenos. 

Mas afinal de contas quem são as Fazedoras de histórias? 

A Joana Maurício é educadora de infância e mediadora de leitura. Apaixonada por literatura, teve sempre este gostinho pelas histórias no seu dia-a-dia. Enquanto docente, foi-se tornando dependente delas e do poder transformador das suas mensagens, sobretudo «do impacto que têm em quem as escuta com o coração (...). As histórias têm esse poder (...) de mudar as pessoas. De as fazer decidir que caminhos tomar e de clarificar ideias.». 

A Cristina Arvana é ilustradora, criativa e designer. Sempre cheia de ideias em ebulição, elegeu desde cedo a expressão visual como o seu meio de comunicação. Sendo que a arte foi uma escolha natural, a ilustração e o fascínio pelo universo gráfico foram conquistando espaço ao longo deste seu percurso. Nas suas palavras, «Passar para o papel as ideias que inundam a minha imaginação tornou-se, mais que um ofício, um gosto, uma paixão.»

No Instagram das Fazedoras aqui ou no facebook aquipodes encontrar à venda os livros «Grãozinho de areia» e «Uma Casa». Este último conta com uma versão em formato kit de Natal que, para além do livro, traz todos os materiais necessários para construíres a tua própria casa. 

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24.7.20

À conversa com Joana Nogueira


Hoje quero partilhar convosco o trabalho de um artesã pelo qual me apaixonei. A Joana Nogueira que no Insta se chama @naosourita :), é uma ceramista (e realizadora de cinema de animação), que cria peças fantásticas que vão ao encontro ao nosso imaginário. Licenciada em Artes Plásticas e Mestre em Ilustração e Animação, Joana encontrou na cerâmica a matéria que melhor dá corpo ao que pretende transmitir.

Mas para isto não ser um monólogo, achei muito mais interessante apresentá-la em jeito de entrevista, e pô-la a falar sobre si. Espero que gostem tanto de conhecê-la e ao seu trabalho quanto eu!

Porque se identifica com a cerâmica? E desde quando se dedicou a esta actividade?

R: Quando era pequena dizia que queria ser oleira quando fosse grande, e acho que não sabia muito bem o que era de verdade ser oleira. Não tenho antecedentes na família, nem cresci envolvida por um  contexto de olaria. Acredito que tenha visto em um qualquer documentário alguém a trabalhar na roda e fiquei fascinada. Hoje continuo a ficar hipnotizada quando vejo vídeos de olaria, mas a olaria não passa além disto. O que é certo é que a cerâmica acabou por cruzar-se comigo há uns quatro anos atrás, e o processo de redireccionar o meu trabalho para este meio foi imediato. As artes plásticas foram sempre o meu meio de trabalho e de expressão, e como tal experimentei vários materiais e formas de representação. Sempre que experimento algo novo fico vidrada naquele material, mas o entusiasmo acaba por ser algo finito. Passado algum tempo parto para outra. E quando me deparei com a cerâmica senti uma ligação diferente, uma forma de manipulação da matéria que é tão genuína e tão natural, que a cerâmica passou a ser o meu vício bom!

De onde vem a inspiração para as suas peças e para a animação que faz?

R: As minhas influências vêm de tudo aquilo que eu vejo, e eu adoro combinar ambientes antagónicos com os quais me identifico como o tribalismo ancestral africano e a contemporânea toyart. Com o trabalho de cerâmica, combino o cinema de animação stop-motion e a ilustração, todos eles num contexto de ‘trabalhar p’ró boneco’. Invento criaturas que aproximem as pessoas e imprimo-lhes sentimentos, acho que é a isso que me dedico. Enquanto que no stop-motion utilizo outros materiais para a construção de marionetas pelas necessidades técnicas que o cinema implica, no meu trabalho individual enquanto autora, quando descobri a cerâmica, adotei-a como uma matéria central.

A série dos Abraços é muito actual mas coincidentemente pré-covid não é?

R: Os abraços são apertos bons. Gosto mais de abraços do que de beijinhos, mas bem, no actual contexto, nem uma coisa nem outra. Aguardemos. E a série dos abraços começou muito antes de todo este cenário de pandemia. Comecei por fazer pequenos vasinhos com braços e pernas que se enroscavam em volta, e depois surgiram candeeiros e outras criaturas. No início de Março, quando fiquei em casa a dar aulas à distância, as lojas que vendiam o meu trabalho de cerâmica fecharam e as perspectivas não se mostravam nada animadoras, estava a organizar algumas imagens do meu trabalho e dei de caras com umas fotografias dos abraços. Obviamente que os relacionei com o contexto actual, e o meu investimento da produção foi mais no sentido de os desenvolver, para que as pessoas pudessem enviar abraços fofos a quem já não viam há muito. E assim foi, e tem sido!

Sentiu algum constrangimento económico com esta pandemia?

R: Foi também em Março que decidi dar o passo de abrir o meu próprio atelier, e o confinamento parecia deitar tudo por terra. Voltei a olhar para a imagem dos Abraços, e decidi que a pandemia não iria mudar-me os planos! Desde Abril que invisto mais tempo e dedico-me mais às redes, e o contexto online tem-se mostrado um excelente meio de promoção do meu trabalho. Já as lojas físicas onde já vendo o meu trabalho há vários anos começam a despertar agora, de forma lenta, e espero que em breve possam recuperar ou chegar perto do ponto em que estavam anteriormente. Toda esta paralisação foi angustiante como é óbvio, pois de repente bateu a incerteza à porta, e se entregar a vida a uma carreira independente já é um caminho sinuoso sem pandemia, quando nos deparamos com este cenário temos logo uma série de nuvens cinzentas (negras não, isso é demais para mim) que andam ali a pairar sobre nós. Por outro lado, viver o dia-a-dia por minha conta e adorar o trabalho que faço, não tem preço!

Costuma fazer algumas feiras?

R: Há algum tempo que não faço feiras, e gostava de retomar mas nunca me é muito fácil de conciliar com outros projetos que vou fazendo em simultâneo com a cerâmica.

A Joana tem filhos? Se sim, o que acham eles das suas peças?


R: Não tenho filhos. Não sinto que tenha um relógio biológico que me chama, nunca o senti. Trabalho muito com crianças e sobre crianças, acho-as incríveis e adoro explorar o imaginário delas, mas daí a ter filhos é um caminho bem longo. Tenho um sobrinho e adoro-o! Ainda assim ele ainda é muito pequenito para me dar feedback sobre o que faço, ainda nem chegou à fase de perceber que se cair ao chão parte. Estou ansiosa que comece a falar-me sobre aquilo que eu faço, para já só se ri muito quando vai ao meu atelier, e eu já sinto isso como uma aprovação.


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#parceria