Metade de Janeiro conseguimos levar um dia-a-dia relativamente mais leve. O Afonso ainda ia à escola, o pai cá de casa ainda ia trabalhar. Nós ainda dávamos uns quantos passeios de bicicleta ao pé de casa. Ainda fui ao mercado de Cascais, onde comprei louças a 1€, cachecóis de lã a 3€, lençóis de flanela a 10€ e bolbos, muitos bolbos de narciso. Ainda fomos um dia ao mercado da bagageira a Carcavelos e logo a seguir comer um gelado ao Santini (vejam aqui a nossa visita à fábrica do Santini há 4 anos). Ainda arranjei um símbolo da coca-cola no Marketplace inspirada num que a Maria Barros tem na sua cozinha (vejam aqui) e o Carlos ainda o foi buscar.
Depois os números dispararam e nós resguardamo-nos na nossa bolha. Eu aproveitei os saldos para renovar lençóis, atoalhados e sapatos para os miúdos. Quis tornar o nosso ninho quente porque os dias se tornaram demasiado frios. Tínhamos o aquecimento sempre ligado e cheguei a trabalhar de cachecol.
Fui tentando encher de cor os nossos dias. Os bolbos floriram, enchi as jarras de verde do nosso jardim. A nossa casa cheira a narcisos. Fiz bolos, saladas, muitas fruta e pratos diferentes. Abusei dos cappuccinos de edição limitada do Natal como quem se despede da quadra, mas só desfizemos a árvore no último fim-de-semana do mês. A Constança dizia que a árvore era um membro da família e que a família deve ficar unida. Foi difícil convencê-la.
Começámos o mês com sushi e Fiuza de um passatempo do Instagram. E terminámos o mês com as escolas fechadas, as crianças em casa e o pai comigo em teletrabalho.
São tempos duros os que vivemos, de que não tenho memória. Tantas famílias separadas, doentes, e tantas vidas que se perderam neste mês. Chorei a ver noticias sem saber o que dizer às crianças e rezei por pessoas queridas por mais nada poder fazer. Comovi-me ao saber que a minha avó de 90 anos levou a primeira dose da vacina. Foi um mês de emoções à flor da pele.
Por estes dias fizemos exercício, vimos séries, jogámos jogos, pintámos. Terminei dois livros em Janeiro e comecei um terceiro. Devorei o Verity da Colleen Hoover que gostei bastante apesar de não me ter preenchido a falta de realismo final. Ninguém constrói a felicidade sobre um ato tão terrível. Tem algo a ver com a consciência e a moral. A auto punição que as pessoas não sociopatas se impõem a si mesmas e que vemos tão bem descrita em «O Crime e o Castigo» de Dostoiévski. É porém um livro com uma escrita viciante, com um argumento não previsível, que li num instante. Terminei a custo de ler «Como Fazer Amigos e Influenciar as Pessoas» de Dale Carnegie. Apesar de todas as aprendizagens que retiramos deste livro, achei-o por vezes difícil de ler, por ter demasiados exemplos repetitivos e também por ser escrito numa ótica demasiado machista e paternalista. O teste do último capítulo está verdadeiramente desatualizado chegando mesmo a ser ofensivo. No entanto, não deixa de ser um livro de referência no universo empresarial e em contexto de vendas. Foi o meu pai, um dos melhores vendedores que conheço, que me deu para ler, depois de há muitos anos atrás ter frequentado o curso dele.
E por aí como foi o vosso Janeiro? Frio como o nosso? Conseguiram encontrar alegria nas pequenas coisas?