7.10.17

O Verão a chegar ao fim


O Verão a chegar ao fim e eu a querer mantê-lo enquanto posso. De noite fiz compota de figos para os trazer para o Outono e Inverno. Vai saber tão bem abrir um frasco para barrar uma torrada quentinha num dia de frio e chuva. Na manhã seguinte a cozinha cheirava a pipocas, levei dois baldes para a escola para as sessões de cinema que fazem depois do almoço para evitar as horas de maior calor na rua. No outro dia fomos ver a exposição dos Guerreiros de Xian, Terracota Army à Cordoaria Nacional e ele gostou imenso. Ganhei um bilhete através da Youzz. Na minha opinião a exposição podia estar melhor conseguida, mais iluminada, e a legendagem também era insuficiente e por vezes estava trocada. Mas é sempre bom fazer estes programas com eles. 

A nossa colecção de latas do Público dos chefs portugueses aumenta e o Carlos pergunta-me quando pode comer uma. Não o deixo abrir, são tão lindas! Às vezes para me despachar trago sandes da Padaria para o Almoço, eu adoro a de caranguejo que traz um molho picante o Carlos prefere a de Camarão com manga e amendoins. Acompanham com chips de batata doce e eu gosto de fazer um molho de iogurte natural, alho e cebolinho para acompanhar. A Cátia trouxe-nos o rosé Pinta Negra, da Adega Mãe a pedido, é simplesmente fantástico. 

Começámos a ver um episódio do Game of Thrones no outro dia, e não percebemos nada. Estava a terminar a sétima temporada. Entretanto um colega lá do escritório emprestou-nos a primeira temporada e ainda ando a tentar perceber se gosto. E como estes momentos de adultos nos fazem falta, gosto de caprichar. Uma vela de baunilha, um temaki, um brinde com um espumante que me agrada. 

Estou a ler ao Afonso as aventuras de Robinson Crusoé numa versão divertida da Guerra e Paz. Não sei se é ele que está a gostar mais se sou eu. Também chegaram mimos para ela pelo correio. A nossa experiência com a Mimobox esteve longe de ser perfeita mas o puzzle de madeira é um dos brinquedos preferidos dela agora. Constança e Afonso estão cada vez mais próximos, basta ele meter-se com ela que ela ri e grita de alegria pela casa toda. Dão beijos e abraços, e quando ele vai para o pai no fim-de-semana ela tem saudades e aponta para fotos e pede para ligar pelo telefone. Uma gracinha. 

Pelo correio também chegou uma prenda atrasada, um notebook do Beija-flor, com uma andorinha dourada na capa. Vou enchê-lo de coisas boas, de memórias, fotos e de recados e post-its teus, daqueles que me deixas pela casa cheios de palavras doces e corações. 

1.10.17

39 anos


No dia 15 de Agosto fiz 39 anos e embora ainda não sejam os 40 já merecem um balanço. Sinto-me a meio da corrida mas sem pressa para chegar à meta. Não me assustam as rugas nem os cabelos brancos. Assusta-me o cansaço que poderei sentir, a saúde que poderei não ter e a forma como isto afectará o acompanhar dos meus filhos no seu crescimento. À parte deste à parte, tudo o resto me agrada. Tudo aquilo que vivi, construí, e aprendi. Mesmo a partes menos boas, as lições que me trouxeram. Gosto muito da pessoa que sou, da minha honestidade, força, coragem, transparência, resiliência, mas também da forma como me dedico aos que amo. As minhas certezas, a segurança que fui adquirindo. Tenho muito orgulho no meu percurso pessoal, académico, profissional, nos objectivos a que me propus alcançar. Na alegria que sinto na vida, no trabalho e nas certezas do que quero construir. Orgulho-me da família que construímos e deste amor que tanto demorei a encontrar, a felicidade do dia-a-dia, que se encontra mesmo depois de uma manhã de stress com 4 filhos para levar à escola, um que não acorda, um que não come e um que não se despacha (há sempre um que colabora :)). Sim, porque nem todos os dias são de sol, mas quando sabemos com certeza que é ali que queremos estar tudo se (des)complica e faz sentido. Eu aceito-te e amo-te, e tu a mim, mesmo nos dias cinzentos. Sobretudo nos dias cinzentos. És a minha pessoa. 

E deste balanço só posso sentir-me muito agradecida mas sobretudo muito orgulhosa. Porque o caminho fez-se caminhando mas eu sinto algum mérito nesta passagem. A felicidade não me caiu no colo, conquistei-a. Ter este amor, a bênção destes filhos, o nosso milagre «Constança» foi uma conquista em nada fácil e em tudo longa. 

Sinto-me melhor aos 39 que aos 29 ou mesmo aos 19, e não só por ter deixado de fumar, mas também porque apostei numa alimentação mais saudável, comecei a fazer exercício e fisioterapia. Ter feito a minha licenciatura e mestrado, uma tese que teve interesse para Actividade Seguradora e um livro de poesia editado, são etapas deste meu crescimento. Ao mesmo tempo este interesse crescente pela nossa empresa e satisfação pessoal com aquilo que faço, também foi um processo. 

Por tudo isto é bom festejar e brindar rodeada dos que me são queridos. E este ano festejei três vezes, ao almoço no Algarve com a família do Carlos, à noite na Feira de Artesanato do Estoril com a minha e no fim-de-semana entre amigos.

O José fez o já tradicional chili que estava fantástico. A Susy fez uma tarte de requeijão da qual eu seu mega fã e que cuja receita está dia melhor- A noite esteve ventosa e foi pena. porque acabei por não acender as tochas e até voaram brindes. Diz que dá sorte! O anexo lá serviu de apoio, mesmo sem lavatório ou cozinha completa. A música foi dos anos 80 e não faltaram os flamingos!

Quanto a prendas a minha mãe surpreendeu-me com a pintura da Mariana A Miserável mas não sem antes me assustar, pois na noite em que o Carlos estava a comprá-la fomos mudar uma fralda e ela desapareceu do carrinho de compras, mas afinal sempre veio parar ao mesmo destino. Foi também o ano em que recebi uma mala linda amarela da Tous do meu amor e uma mala de viagem, como eu nunca tive, dos meus filhos queridos. Os amigos também me encheram de mimos bons. Das marcas que também dão miminhos de aniversário, destaco a Springfield que me deu um chapéu de palha para substituir o que perdi no fim das férias, uns chocolatinhos da Hussel, um gelado do Santini, as máscaras da Sephora e um jantar na Portugália. Assim fazer anos sabe ainda melhor. 

6.9.17

Fátima e Itália

 

Fomos a Fátima. Queria ir há tanto tempo, pedir por ela, agradecer por nós, que não pensei no papa, não pensei no 13 de Maio, nem nos outros 13. Não considerei as festas de anos, os casamentos da família, os fins-de-semana com miúdos, as aulas ou mesmo os exames. E não deu num, nem noutro, os meses foram passando e quando conseguimos ir era já Agosto. Comprámos a estadia no Inverno e só fomos no Verão, e entretanto a vida aconteceu e eu já só agradeci. Visitei Fátima como nunca tinha visitado. Acendemos velas, rezei mas também passeámos de mãos dadas e coração cheio. A Constança dormiu mal em Fátima mas comeu bem e andou sempre bem disposta. Não se pode ter tudo. Houve procissão das velas, como em todos os Sábados de Agosto. Ficámos num hotel de frente para o Santuário e a meio da noite já depois de terminada a procissão, ela ficou com ele e eu fui buscar água à fonte. Estavam jovens raparigas a rezar na capelinha das Aparições. Pessoas ainda pagavam promessas de joelhos. Estava tudo calmo e a noite estava estrelada e ali me sentei a rezar em paz, numa paz tão grande e avassaladora que me comovi. Enfim a Fé.

Recordei então este sentimento tão difícil de descrever e a primeira vez que o senti. Tinha 14 anos quando fui a Itália, descrente no meio de uma comunidade de adolescentes católicos praticantes, freiras e padres. Foram 15 dias de viagem por várias cidades de Itália, num autocarro muito grande. Dormíamos em colégios de freiras, conventos e uma vez num parque de campismo. Estávamos organizados por grupos, uns limpavam o autocarro, outros colocavam a mesa, outros cozinhavam (os mais velhos acho) e serviam as refeições. Dormíamos em sacos de cama, tomávamos às vezes banho de mangueira. Eu achava que já sabia tudo, fumava imenso, era desafiadora e atrevida. Foi uma viagem de muitas descobertas mas a maior de todas elas foi a da minha Fé.

O grupo cantava e alguns tocavam viola. Eram amigos, bondosos e brincalhões. Tinham o coração cheio de dádiva. Ainda recordo imensas canções «Guiado pela mão com Jesus eu vou, e sigo como ovelha que encontrou pastor, guiado pela mão com Jesus eu vou, aonde ele vai....». Também se rezava o Terço no autocarro e essa parte custava-me um bocadinho confesso. Havia também um correio do amigo secreto para trocarmos mensagens. Arranjámos ali uma família, uns eram pais e outros irmãos. O meu pai adoptivo era o Pedro e durante anos mantivemos contato. Acho que esteve presente na festa do meu 18º aniversário. Também tive um Crush de Verão que durou um pouco mais do que as férias, o Flávio, que para além de ter imensa graça também escrevia poesia. E uma amiga inseparável de viagem, a Rita. Uma vez tentámos fazer capuccino em pó com a água morna da torneira e não correu lá muito bem. Lembro com carinho o ritual de ir falar à noite, ler um texto, agradecer. Eu fugia sempre dessa parte envergonhada mas um dia apanharam-me já de pijama e não me safei. Porém o dia que tudo fez mais sentido para mim foi quando dormimos numa pousada nos arredores de Assis, por onde vivera São Francisco de Assis, uma casa simples com quartos cheios de camas confortáveis que acolhiam quem os visitava, no meio de um género de floresta, com uma vista linda. A religião assim fez sentido para mim, despojada e frugal. Recordo os agradecimentos dessa noite, como tudo me tocou e comoveu.

Voltando a Fátima sinto que os momentos de bondade absoluta e inocência são cada vez mais raros. O cinismo que vivemos hoje em relação a tantas coisas cria em nós uma couraça difícil de transpor. Já nos esquecemos como é tão mais fácil amar sempre. Os miúdos é que sempre nos desarmam, é neles que sinto a Fé renascer todos os dias. Num beijinho que cura tudo, num colinho bom, num «amo-te mamã» sem esperar retorno, é neste amor incondicional, crente e inocente, sem segundas intenções (às vezes também têm). O amor dos crescidos é muito mais complexo, único porém complexo. E o melhor que podemos dar-lhes é calma para que vivam em Paz, alegria para que possam ser felizes pelo exemplo, gratidão, esperança e fé para que sejam optimistas e gratos, valorizando sempre o que têm e dar de nós para que cresçam altruístas e bondosos. Afinal de contas um coração bom é muito difícil de corromper.