20.12.11

Natal passado, presente e futuro

Vinha agora a pensar que uma parte daquilo que eu entendo por Natal, tem a ver com a minha experiência passada. Tem a ver com o fazer o centro de mesa com a minha mãe, com barro e azevinho. Com o montar a árvore e o presépio, com a cabana feita pelo meu avô. Tem a ver com escolher, comprar e embrulhar os presentes, e ir trocá-los com os amigos ou com o distribuir garrafas e bolos com o meu pai pelos vizinhos.

Tem a ver com o ir buscar a minha madrinha muito velhinha e os sonhos de abóbora dela. Como eu gostava de ir à sua casa em Belas, cheia de coisas antigas, uma cozinha com uma escada para o sótão e um jardim com coelhos - uma casa que pensando bem até chega a ser parecida com esta.

Tem a ver com os filmes da vida de Jesus Cristo que eu adorava ver quando era miúda, mesmo os repetidos, Coitada da minha mãe que não podia mudar de canal. O meu Natal é feito da volta dos tristes à Baixa para ver as luzes e os enfeites de Natal. Do passeio de mão dada com a minha avó pelas vitrinas cheias de bonecos a mexer do Grandella e dos presépios dos bombeiros que sempre visitávamos.

Sim, o meu Natal é feito de memórias. Memórias dos teatros infantis do Pinheirinho na SMUP, ou no Colégio Quinta do Lago. É feito de memórias de adolescente em casa do José, em que a irmã misturava tradições inglesas, a música na aparelhagem, os postais pendurados na árvore, os bolos e chás ingleses desta quadra. É feito do almoço da empresa, dos jantares de amigos, do almoço de cozido à portuguesa no dia 25 com a família. O meu Natal é feito de reunião.

Mas apesar do meu Natal ser feito de tradições e de memórias passadas, é também feito de tradições futuras mesmo que isto soe a contra-senso. Tradições que eu ainda tenciono criar e pôr em prática com o Afonso e repetir todos os anos. O meu Natal futuro inclui a missa do Galo a que nunca assisti, o retrato em família ao pé da árvore, a carta ao Pai Natal (que já escrevemos este ano). O meu Natal futuro  inclui algumas tradições do meu Natal presente, como o reforçar da nossa solidariedade, ou o passar um dia na cozinha cheia de farinha a fazer os biscoitos de Natal coloridos. É igualmente para manter a mais "recente" tradição do pai André mascarado de Pai Natal a bater à porta depois da consoada! 

No meu Natal futuro cabe menos consumismo mas mais, muito mais espírito natalício, nele cabem a alegria das canções de Natal e das histórias com final feliz, dos contos lidos ao Afonso, dos filmes de época a que assistimos enrolados na manta em frente à TV. Cabem tradições adaptadas ao momento em que vivemos. Este ano não houve jantar de amigos no restaurante do costume com a tradicional troca de prendas, houve um jantar feito em casa, em que trocámos beijos e abraços e passámos tempo juntos. 

Quando me dizem que este Natal vai ser triste para muita gente, porque vai faltar pão na mesa dos portugueses, eu comovo-me e sinto-me impelida a ajudar. Mas quando me dizem que vai ser triste por não haver dinheiro para prendas, não me sinto solidária, não porque as prendas não me deixem feliz, nem tão pouco porque não me revolte a sobretaxa de IRS, e o que isto representa para os direitos que demorámos tanto tempo a adquirir, mas sim porque não são as prendas que fazem o Natal. Não são as prendas que fazem o espírito natalício, mas antes o sentimento que nos invade nesta altura, e a nossa construção da quadra com base nas memórias passadas, nas vivências presentes e nas projecções futuras. São estas tradições que me fazem viver feliz esta quadra, tal qual um Conto de Natal.

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