24.8.11

O meu país inventado

Terminei «O Meu País Inventado» de Isabel Allende, foi o meu primeiro livro dela, uma biografia romanceada que se funde com a história do Chile. Achei-a muito jovem, pela maneira de escrever e também de pensar, tendo em conta tudo o que passou e tudo o que já viveu. Penso que terá a ver com a prosa jornalística inculcada, directa e sarcástica. Este pedaço de texto que transcrevo é apenas um trecho descontextualizado mas que me disse muito sobre a forma como analisamos a realidade, como vivemos a vida, como vemos o mundo. Fez-me pensar logicamente no meu país e em como temos de dar mais valor ao que realmente importa, ao essencial. Penso que os valores na nossa sociedade se inverteram e as pessoas não conseguem sentir verdadeiro prazer extra consumo. Valorizar o hoje, o que temos, a poupança, a família, um bolo caseiro, uma tarde de jogos, uma tarde de praia, uma fruta da árvore, uma brincadeira, um beijo, um segredo, um luar, não serão opções tão ou mais viáveis de se ser feliz?

«A unidade popular era popular, mas não era unida. Os partidos de coligação lutavam como cães por cada naco de poder e Allende não só tinha de enfreitar a oposição da direita, mas também os criticos pertencentes às suas fileiras, que exigiam mais velocidadeA sabotagem da direita, a intervenção norte-americana e os erros de Allende provocaram uma crise económica, politica, e social muito grave. A inflação chegou oficialmente a trezentos e sessenta por cento ao ano (...). Era tal a escassez que as pessoas passavam horas à espera para conseguirem um frango raquitico ou uma chávena de azeite, mas quem podia pagar comprava no mercado negro. Com a sua modesta maneira de falar e de comportar-se, os Chilenos referiam-se à filita, mesmo que esta tivesse três quarteirões de comprimento, e costumavam meter-se nela sem saberem o que estava à venda, por puro hábito. Em breve chegou a psicose do racionamento e mal se juntavam mais de três pessoas, colocavam-se automaticamente em fila. Assim adquiri cigarros, embora nunca tenha fumado, e assim consegui onze frascos de cera incolor para dar lustro aos sapatos e um galão de extracto de soja, que não sei para que serve


Allende, Isabel, O meu país inventado, pág. 160 a 161

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