7.3.11

Avó Suzette

A avó Suzette estudou num colégio e aprendeu piano e francês como o gato maltês. É uma mulher da cidade a minha avó, cheia de vida e de coragem. A perna romba é que já a vai limitando, porque por ela a vida era um passeio. A minha avó é de Alfama, não é da terra como a grande maioria das avós, por isso, quando eu era miúda levava-me aos fados e a dar milho aos pombos no Rossio. Sabe sempre qual é o autocarro, ou «carreira» como lhe chama, mas não sabe nadar. Até há dois anos atrás fez campismo. Casou duas vezes e duas vezes enviuvou. Adora queijo. Devora novelas na televisão, na Globo e na Record e nos livros do Arlequim e Bianca como quem bebe água. Foi costureira e fazia malhas bonitas que eu cheguei a vestir. Nunca me fez muitos doces e as histórias começavam sempre por «Era uma vez uma menina chamada Vanessa...» e eu dizia sempre «Oh avó essa eu já sei.». Quando eu era miúda teimava em pentear-me os caracóis e acha sempre que eu estou despenteada. A minha avó tem uma letra bonita e é uma mulher alta. Já lhe faltam muitas peças de várias operações ao longo dos anos, mas continua rija e sorridente. Tenho muita vontade de arranjar o anexo e trazê-la para ao pé de nós. Já falta pouco. 

Cresci com ela, muitas vezes a arreliei, e muitas a comovi, sei que foram mais as alegrias que as tristezas e que me defende sempre como ninguém, porque é, como ela me diz, «minha mãe duas vezes»!

Já foi minha companheira de viagem mas nunca andou de avião, só de avioneta ali em Tires. A minha avó é única, um exemplo de mulher, íntegra mas vivaça, jovem de espírito e sempre com vontade de experimentar coisas novas. 

Parabéns minha querida avó, que contes muitos e com saúde!

2 comentários: