23.6.10

Morgadinhos

É tão bom quando nos cruzamos com pessoas atenciosas e educadas e que de alguma forma nos marcam pela sua amabilidade. No dia da escritura, como já referi, tudo o que podia correr mal, correu, e às 7h da tarde eu e o André ainda nem tínhamos almoçado. Eu sentia-me fraca, enjoada e triste e não consegui esboçar nenhum sorriso nesse dia. Hoje resolvemos uma situação pendente e a antiga proprietária da minha actual casinha, de nome Maria Manuela trouxe-me do Algarve uma caixinha de Morgadinhos de Amêndoa, também conhecidos por Amêndoas Encantadas, que parecem pequeninas obras de arte, para me dar um miminho, porque da última vez que nos vimos eu estava meia tristinha. Fiquei sem palavras. No dia em que fizemos o contrato de promessa de compra e venda havíamos tirado uma foto com os antigos proprietários para mais tarde recordar e poder mostrar aos meus filhos e netos. Afinal esta é uma casa com história, onde morou o jornalista Santos Guerra, e também o apresentador Fialho Gouveia. Eu gosto destas coisas. Destes pormenores. Daí que fiquei muito sensibilizada com o gesto de hoje e vou juntar foto destas pequeninas obras de arte à foto daquele dia especial. É um privilégio e um prazer quando na vida nos cruzamos com pessoas assim. Maria Manuela muito obrigada e bem-haja!

E como as histórias e as lendas andam muitas vezes de mãos dadas, deixo-vos não uma mas duas lendas Algarvias. (Fonte http://www.g-sat.net/lendas-e-tradicoes-1073/lendas-do-distrito-de-faro-25907.html).

Reza a Lenda das Amendoeiras em Flor, que há muito tempo atrás, antes de Portugal existir e quando o Al-Gharb pertencia aos árabes, reinava em Chelb, (futura Silves) o jovem rei Ibn-Almundim que nunca sofrera uma derrota. Um dia, entre prisioneiros duma batalha, viu Gilda, uma linda princesa loira de olhos azuis e porte altivo. Impressionado, o rei deu-lhe liberdade, conquistou-lhe a confiança e um dia confessou-lhe o seu amor pedindo-a em casamento. Foram felizes durante algum tempo, mas um dia a bela princesa ficou muito doente sem razão aparente. Um velho cativo das terras do Norte pediu para ser recebido pelo desesperado rei e revelou-lhe que a princesa sofria de "nostalgia da neve" do seu país distante, que é uma maneira pomposa de dizer que ela sofria de saudades de casa. A solução era simples, bastava plantar por todo o reino muitas amendoeiras que quando florissem dariam à princesa a ilusão da neve e ela ficaria curada. Na Primavera seguinte, o rei levou Gilda à janela do terraço e a princesa sentiu as suas forças regressarem. O rei mouro e a princesa viveram muitos anos felizes esperando ansiosamente, ano após ano, que a Primavera trouxesse o maravilhoso espectáculo das amendoeiras em flor.

E como estamos em festividades de Santos Populares, e como o amor é lindo mesmo quando não acaba bem, deixo-vos a Lenda da Moura do Castelo de Tavira. Diz-se que a noite de S. João é, desde que há memória, a noite das mouras encantadas. Segundo a lenda, no castelo de Tavira existe uma moura encantada que todos os anos aparece nessa noite para chorar o seu destino. A moura foi encantada pelo pai Aben-Fabila, o governador da cidade, desaparecido aquando da conquista de Tavira pelos cristãos. A sua intenção era voltar e reconquistar a cidade resgatando a filha, mas nunca o conseguiu. Ora numa noite de S. João, D. Ramiro, um cavaleiro cristão, avistou a moura nas ameias do castelo, e ficou rendido à sua beleza e à infelicidade da sua condição. Perdidamente enamorado, resolveu subir ao castelo para a desencantar. A subida não se revelou fácil e demorou tanto que entretanto amanheceu e assim passou a hora de se poder realizar o desencanto. O povo diz que a moura se desfez em lágrimas mal rompeu a aurora, enquanto D. Ramiro assistia sem nada poder fazer. A frustração apoderou-se do cavaleiro de tal maneira que este empreendeu com grande fúria nas batalhas contra os Mouros chegando a conquistar um castelo.

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