Que medo. Olhei para o André, e ele olhou para mim, a casa tremia, os vidros da janela fizeram barulho e naqueles segundos pensei que podia ser o nosso fim, e que aqueles podiam ser os meus últimos pensamentos, tal como nos filmes. Disse-lhe para vir comigo para ombreira da porta. O tremor parou. Disse-lhe - vai buscar o Afonso - ele hesitou. O André no fundo sabe que não vale a pena contrariar-me nestas alturas, trabalho com sinistros todos os dias. Peguei nuns cobertores para o enrolar e na mala. O sobretudo escondia-me o pijama, e só os chinelos cor-de-rosa me denunciavam.
-Pelas escadas. Não vás pelo elevador que podemos ficar presos. - Chegámos ao carro. Liguei o rádio com esperança que me informassem do que se estava a passar e se haveria réplicas. Comecei a conduzir, para o Afonso não acordar. Fui dando voltas ao bairro, não se via ninguém. Ninguém saiu ou foi sequer à janela. Estranho. Mas não sonhámos. Passados uns quinze minutos lá ouvimos as notícias na TSF - Sismo de magnitude 5.7 sentido em todo o país. Voltamos para a casa a rir da nossa figura. Eu cheguei à conclusão que levámos muito tempo a fugir, tempo demais.
É engraçado - disse-lhe a olhar pelo retrovisor - não pensei em trazer nada, só o multibanco e nós. Sempre achei que ia pegar no meu quadro preferido ou nas fotografias de família. - Ainda nos rimos mais. Metade era nervos. - Já nos estou a imaginar tu com o Afonso ao colo e eu com o quadro a correr escada abaixo.
Há dias que começam assim, antes de a noite findar. E agora sinto-me como o Afonso, demasiado excitada para dormir, quero ver tudo, viver mais, antes de me ir deitar esta noite. Afinal a vida é boa demais!
A vida é boa demais e às vezes precisamos de um abanão para a vivermos como ela merece! Carpe Diem !
ResponderExcluirCarpe Diem!
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