Houve muitas outras coisas que não nos correram de feição. Ficámos várias vezes presos no trânsito por causa de manifestações. Fomos a um mercado giríssimo num dia em que estava só 10% aberto, o Marché aux Puces de Saint-Ouen. Houve um Museu em que nos expulsaram literalmente à saída* e até o avião de regresso se atrasou horas e apanhou a hora de jantar e dormir dela, tornando-se num tremendo desafio que teríamos dispensado sem hesitar.
Mas houve coisas tão fantásticas que dificilmente esquecerei. Explorar e perdermos-nos no Quartier Latin, Saint Germain des Prés e Montmartre, bairros encantadores e charmosos. Bebi um Champagne muito bom e que eu não conhecia, Veuve Clicquot. Encontrámos sem querer o mercado do amigo da Ámelie Poulain. Tínhamos capuccinos, cafés, chocolate quente e outras bebidas fantásticas à descrição no apartotel. E sabia tão bem chegar da chuva e do frio para um chocolat chaud a fumegar. Já para não falar nos croissants quentes e enormes que o Carlos ia comprar de manhã e que comíamos a dobrar. E as baguettes, o queijo, os patês, os macarrons e as conquilles St. Jacques. E a água tão quente do banho e a toalha aquecida no toalheiro depois de um dia de frio e chuva. E a vista da nossa janela, a praceta sem saída com um banco de jardim sempre lotado e as árvores tão altas que ultrapassavam a nossa janela. Ficámos no coração da vida boémia com um bebé, mesmo ao pé do Moulin Rouge, e de restaurantes, bares, casas mais e menos duvidosas e lojas para adultos (mas isso era já mais para a frente). E os ganchos antigos do Tombées du Camion para a Constança iguais aos que eu usava em miúda, e um pendente verde com uma andorinha dourada para o meu casaco. E o teu pedido nos Jardins du Luxembourg, atabalhoado e o meu «Oui» sincero porque é só contigo que eu quero estar. Un long dimanche de fiançailles, que seja. E os barcos a fazerem corridas no lago e a exposição de orquídeas à despedida. E um mercado em segunda mão que encontrámos sem querer e um disco do Jacques Brel riscado (mas que afinal não está) por 1€. E o Shakespeare and Company, aquela livraria histórica que visitámos à vez com vista para o Seine. E o magnífico lanche tão merecido depois de um dia a caminhar no Le Deux Magots com um café servido em jarro que dava para dois e um macarron enorme de pistácio e framboesas que se derretia na boca. E o restaurante fantástico que encontrámos sem querer num dia de chuva onde os clientes da casa guardavam o seu guardanapo, com uma entrada de abacate divinal e em que ela colaborou e dormiu. Amo-te tanto com tudo de bom e menos bom que nos acontece. Nunca fui tão feliz.
* Escrevemos para o Museu em questão e manifestámos o nosso desagrado com o que se passou. O Museu enviou-nos dois bilhetes sem validade e um pedido de desculpas.