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13.1.20

Encontros e desencontros de NATAL


Dezembro foi o mês de encontros e desencontros e muitos com a componente gastronómica, não fossemos nós um país onde muito do convívio se faz à mesa.

Desencontrámos-nos do nosso grupo de leitura, que se reuniu enquanto estávamos na Bélgica, mas antes de partirmos encontrámos-nos com a querida Rosária Casquinha num espaço tão especial do Hotel Pestana Cidadela em Cascais. O The Chapter é o bar cheio de pinta do hotel que nesta quadra se associou à livraria Déjà-Lu (localizada em frente) vendendo livros cujas receitas revertiam a favor desta belíssima causa - o apoio à integração profissional de jovens com trissomia 21. Deixámos-lhe os nossos livros para a troca de Natal e os nossos resumos. 

Nos dias seguintes ao nosso regresso da Bélgica os dias correram acelerados entre almoços e jantares. 

Nos anos do Carlos rodeados de amigos lá em casa celebrámos e demos as boas vindas os seus 51. Nos dias seguintes fomos a alguns jantares de Companhias. A Tranquilidade festejou as mil e uma noites num jantar temático no Hotel Vila Galé de Sintra, já a Generali apostou num jantar que promoveu o espírito de equipa na LX Factory. Fomos convidados a fazer a nossa refeição no Kiss the Cook por grupos, e o nosso, da qual fui orgulhosamente eleita chefe de equipa, ganhou com a sobremesa «Fatias Douradas». A receita tinha um twist moderno e para além de ter um cheirinho de vinho do Porto no leite para demolhar, tinha ainda ganache de chocolate como acompanhamento opcional. 

No nosso almoço de Natal que aconteceu no restaurante Alkimia Madeirense, também brindámos ao fantástica equipa que formámos juntos este ano. Convidámos alguns dos nossos parceiros e fizemos alguns jogos que mostraram em tom de brincadeira como juntos só podemos ser «mais fortes».



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17.12.19

No reino da noite - Conto de Natal


Participei na Colectânea de Contos de Natal da Chiado Editora, pela segunda vez. O lançamento foi no Sábado, no Hotel Pestana Palace em Lisboa. É sempre um prazer enorme participar nestas colectâneas, porque encaro os convites como desafios, e porque para mim escrever é tão natural como respirar. O sitio já me diz muito, gosto do ambiente daquele hotel, das pessoas que partilham esta paixão e se cruzam. E muito embora os contos não sejam propriamente a minha narrativa de eleição, pela minha reduzida capacidade de síntese, sinto que estou a progredir.

Hoje partilho convosco o meu conto, espero que gostem. Foi inspirado numa miúda que sigo no Instagram e que também tem um blog aqui



«Rita nascera para a enfermagem. Não a querendo exercer em portugal emigrara para Inglaterra onde podia receber horas extra e fazer carreira. Inicialmente estar longe de casa fora uma bênção mas depressa se revelara um enorme desafio. Faltava-lhe a comida, o clima, mas sobretudo os seus. Porém, os dias passavam à velocidade da luz. Terminados os turnos não carecia de nada excepto uma cama, e essa era tão fofa em Londres como em Portugal. As férias de Verão eram sonhadas durante o ano. Já o Natal era diferente pois ficava sempre de banco.Rita não se importava. Conseguia desligar a saudade como separar o horror da humanidade. Se inicialmente escolhera esta profissão pro ser considerar sensível ao sofrimento alheio, sentindo verdadeiro apelo e vocação, rapidamente se apercebeu que para ser boa enfermeira tinha de ganhar distância à dor e gerir bem as emoções para não quebrar. Sangue e dejectos humanos eram simples matéria prima que tratava com desprendimento e desenvoltura. A matemática da profissão era outra, a dos sorrisos e vidas concertadas. Esse era o seu Natal.

Recentemente fora implementada rotatividade obrigatória no Hospital. As alterações feitas a alguns dias do Natal impossibilitaram conseguir um voo para casa. Passaria pela primeira vez a consoada sozinha em Londres. A colega de apartamento estava de turno. Inicialmente evitou pensar mas depois o assunto atormentou-a. Mais do que estar, Rita sentia-se só. Tinha 30 anos, era emigrante, sem marido nem filhos. Faltava-lhe o colo dos pais, irmão e sobrinhos tão intensamente que doía. Precisava de uma enfermeira para cuidar dela. Esta avalanche de sentimentos consumiu-a. Decidiu passear numa loja de caridade, os livros sempre a animavam, mas ao avistar contos de Natal debandou. Reparou então numa belíssima caixa, com enfeites reluzentes e um soldadinho perneta perfeito na sua imperfeição. Rita cedeu e começou a chorar, tanto, que a lojista lhe ofereceu um lenço e um enfeite. Rita não conseguiu recusar e trouxe um pingente igual ao da avó Margarida. Determinada, delineou um plano, decidida a ser a sua própria enfermeira. Pesquisou leilões de voo, procurou alternativas em conta. Nada. No plano B cozinharia bacalhau e ligaria à família por video-chamada, mas não encontrou bacalhau. No dia 24 tentou fazer sonhos mas fracassou e acabou por almoçar arroz com atum. À tarde estava tão deprimida a ver o Sozinho em Casa que chorou compulsivamente.

Quando a colega conseguiu trocar o turno e a obrigou a arranjar-se, Rita ficou reticente. Foram a um restaurante português em Piccadilly Circus, comeram cabrito, ouviram a Orquestra Sinfónica Portuguesa e brindaram com conterrâneos como se fossem família. Depois da videochamada para os pais adormeceu com o coração apaziguado. Contudo, quando pela manhã a campainha tocou e viu toda a família à porta, foi a loucura total. Conseguiram bilhetes e decidiram surpreendê-la. Foi o melhor Natal! Na mala a mãe trouxera bacalhau e fez um verdadeiro banquete. O que a profissão ensinara e Rita esquecera é que o valor das coisas é relativo. O que verdadeiramente importa fala baixinho ao coração.» in Natal em Palavras, Colectânea de contos de Natal Vol. II


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