10.5.19

A cor bonita das coisas velhas


Eu não sou uma miúda monocromática.Eu sou uma rapariga de cores. A minha casa não podia ser só de cores naturais como muitas que vejo nas redes sociais. Beje, preto e branco, castanho, tijolo, não formam a minha Pantone. Eu gosto de ver contas assim arrumadinhas por tons. Mas eu gosto ainda mais de amarelo, coral, azul, verde, vermelho e adoro verde-água porque é a cor das coisas antigas. E também gosto de branco. Eu gosto de cores em mim, na casa, nos miúdos, nos quadros, nos tecidos e no céu. Gosto de pintar desde miúda e gosto verdadeiramente de cores.

Eu também não sou uma miúda da moda. Pelo menos não daquela moda tendência. Eu sou uma miúda que gosta de coisas mais antigas (apesar de agora o antigo estar na moda). Gosto de objectos com história e de roupas confortáveis. Dificilmente me irão ver de saltos mas facilmente me encontrarão numa feira de antiguidades de volta dos discos vinil. 

Nada contra, atenção. Respeito os gostos e preferências de todos. Aliás mais do que respeitar, prezo. Porque para mim é na diferença que está a riqueza. Tenho um bocadinho de dificuldade em explicar isto mas é o que sinto. Pessoas, casas, músicas com identidade própria conquistam-me. Filmes com argumentos originais, livros com personagens e enredos intrincados apaixonam-me. Pessoas que compram todas uma cama-casa em madeira, que educam exclusivamente Waldorf ou Montossori, que seguem o baby led weaning tipo seita, ou são radicais de alguma forma que seja tendência não me entusiasmam. Atenção, respeito na mesma. Aliás, prezo e aprendo coisas. Mas não é para mim. Não sou exclusiva, não sou radical, mas tenho algumas convicções. 

E nisto da decoração eu tenho uma identidade muito própria. Eu gosto muito, mas muito mesmo de objectos com história. Eu gosto muito, mas muito mesmo de loiça, de discos, de cassetes, de rádios e de livros antigos. Eu gosto de filmes, de música antiga. Para mim uma casa só é mesmo um lar quando tem coisas que reflictam as pessoas que lá moram e que de algum modo contem a sua história, se possível através de gerações. 

Recentemente tivemos de desocupar a casa da minha avó, ela está bem por isso não me custou. A parte complicada foi seleccionar entre coisas que me diziam muito. Quase todas as loiças do meu avô, incluindo as chávenas japonesas que se vê a senhora no fundo em contra luz; as agulhas da minha avó; as cassetes e os romances Harlequim Bianca; os livros antigos do meu outro avô que era tipógrafo, alguns proibidos pela censura; o menino da lágrima; os lençóis (tantos) naquele algodão que eu adoro e todos bordados de cores bonitas, me transportam docemente à infância e não me consegui separar deles. Não se explica o que se sente  mas há objectos que nos transmitem afectos. 

Quando recentemente descobri um cabo que dá para ligar o rádio onde o meu avô e avó gravavam a minha voz, um rádio-mala que também é leitor de cassetes e gira-discos, enchi-me de alegria. É muito difícil vivermos sem memórias, sobrevive-se mas perde-se toda a construção que edificámos ao longo de uma vida. E as memórias não sendo tudo, são muito. É nelas que residem os nossos afectos e sentimentos, é aí que guardamos com carinho os nossos momentos kodak, as nossas pessoas. 

E na blogosfera conheci alguém assim como eu. A Denny B. não é apenas uma miúda gira que sigo no Instagram, é uma miúda com uma identidade própria, com uns filhos e cães amorosos, e que tira fotos com uma luz única. É também uma miúda que gosta de cozinhar e de mimar os que ama, que escreve e fala como se saíssem arco-íris das suas palavras e que tem imenso jeito com plantas e que adora velharias assim como eu. É minha "vizinha" e já tínhamos falado pelo Insta sem nos conhecermos. Enquanto estive a arrumar as coisas em casa da minha avó vi algumas que achei que ela iria gostar, valorizar e integrar na história dela. No fundo o que queremos para os objectos que nos dizem qualquer coisa é que prolonguem a sua vida e sejam usados. E foi assim que a conheci e comprovei que é ainda mais doce ao vivo que na sua conta, do mais amoroso que há. E os objectos que escolhi e espero ter acertado, estão em boas mãos e até já fazem bolos novamente. 

E por aí? São mais de coisas novas ou coisas velhas? São mais monocromáticos ou coloridos?

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