28.12.17

Natal


Tantas vezes a vida se encarrega de nos lembrar o que realmente importa e tantas vezes optamos por não ligar e entramos no piloto automático, na engrenagem de agradar a todos e de nos esquecermos de nós. Lia no outro dia num romance que os ocidentais tendem a priorizar o amor. Tendem igualmente a colocar os seus desejos pessoais em frente aos da sua comunidade, do seu líder ou mesmo da sua família. No Oriente é o oposto. Deve-se respeito e fidelidade ao líder, e a toda uma hierarquia social e familiar, o individuo e as suas necessidades pessoais vêm depois. Já nem falo das mulheres. Ali o suicídio é uma forma coragem, de honrar um compromisso. Mas nos grandes romances Ocidentais, corajoso é o que segue o seu coração, o suicídio é uma cobardia e o amor é sempre o grande vencedor. Aqui priorizamos o individuo, as suas necessidades e ambições. Mas priorizamos mesmo? É de facto assim?

É talvez por isso que valorizo tanto o nosso Natal e recordo com tanto carinho o mais simples de todos, o nosso primeiro. Na altura tudo era ainda muito complicado, o primeiro Natal depois de um divórcio nunca é fácil. Não tínhamos muito dinheiro (não que agora tenhamos), a família próxima não apoiava a nossa decisão. No entanto, estávamos juntos e tínhamos essa certeza, a de que estávamos a priorizar o nosso amor. Recordo-me que naquele ano fizemos um inquérito presencial e recebemos cada um, um cartão presente, que nos permitiu um fausto manjar na noite de Natal e passagem de ano. Foi uma sorte. Tinha comprado um disco de Natal nas velharias que passámos os dias a ouvir. Estávamos só três no dia 24 mas nem por isso foi menos especial. No dia 25 dormi uma sesta natalícia a ver o Star Wars que ainda hoje guardo com muito carinho.

Agora somos muitos. A vida descomplicou-se mas as exigências aumentaram. É uma casa cheia de crianças. As prendas. Tantas prendas para os miúdos e para nós que se perde o essencial. As tradições que eu gostava que não se tornassem obrigações. Porque todos gostam de peru, de ver a fotografia ao pé da árvore passados uns anos e mesmo da missa do galo, mas não tem de ser sempre igual. Se para o ano todos quiserem bacalhau, bacalhau será. O mais importante será estarmos juntos. O mais importante será sempre o amor.

Este ano o Carlos mascarou-se de Pai-Natal para a Constança, ela não o reconheceu e foi uma risota. O dia voou entre fazermos o peru, os biscoitos, receber família e fomos tirando fotos quando calhava. No final da noite fomos até à igreja da Parede à missa do galo e quando chegámos estava tudo guerreado.

Outros Natais, aqui, aqui e aqui.

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