Natal

Ontem foi a primeira festa de Natal de escola do Afonso. A mãe andava em pulgas e tudo foi pensado ao pormenor. A bateria da máquina a carregar de véspera, a farda impecável, o sapatinho engraxado.

Eu - Afonso, o auditório diz que é grande mas para veres bem a mamã vai levar umas orelhas de Rena.

Afonso – De Rena mãe?

Eu – De Rena Afonso. E depois digo adeus e tu sabes logo onde eu estou.

Chegámos cedo e fomos para a terceira fila da frente. Babada de máquina em punho, mal conseguia esperar para ver o meu pigali em palco. O tema era «A volta ao mundo em 80 dias» e foi comovida que vi entrar o Afonso com uma tanga de leopardo e ossos na mão para tocar tambor, e meti as ditas orelhas e acenei sem parar. O Afonso não me viu mas portou-se como um crescido, sempre atento à coreografia e cheio de ritmo. Quando o fui buscar ao final levei as orelhas da Rena e ele ria às gargalhadas.

Temos por hábito tomar o pequeno-almoço no tabuleiro os dois. Comemos torradas, bebemos leitinho a ver os desenhos animados de manhã antes de ir para escola. Sabemos de cor as letras dos genéricos, do Pororó à Vila Moleza mas hoje a mamã chegou com o tabuleiro mascarada de Rena a cantar Jingle Bells, e rimos que nem uns perdidos.

Afonso – Mamã tenho uma coisa para dizer.

Eu – Diz Afonso.

Afonso – És linda!

Eu – E tu também meu amor. Sabes, eu também tenho uma coisa para te dizer.

Afonso – O que é mãe?

Eu – I love you! A lot!

Afonso – Não é «a lot» mamã.

Eu – Então amor?

Afonso – É «I love you too.».

Eu – É isso mesmo. E sabes o segredo?

Afonso – O segredo mãe?

Eu – Sim. O segredo das coisas boas?

Afonso – É o amor!

Eu – É isso mesmo. Devemos encher sempre o nosso coração de amor e de sentimentos bons e tudo o resto se revolve.

Levámos miminhos para a professora Dina ontem, bonbons para a educadora Joana e auxiliar Bruna e postais pintados pelo Afonso, que como diz a Bruna «Não há loja que venda!» e em troca a mamã recebeu um pendente personalizado pelo Afonso para a árvore de Natal.

E é destes sentimentos e rituais que é feito o Natal, de trocas cheias de dádiva, carinho e muito amor. E tudo o resto, a seu tempo se revolve.