Afonso por Lobsangphoto
Esta semana comecei a visitar creches para o Afonso com a minha mãe. Aproximam-se os três anos da criança, e na ama os meninos mais crescidos já estão na escola. É altura!
Enquanto via os meninos de 1, 2 anos, comerem sozinhos numa das salas, e já tão emancipados na brincadeira e na socialização, apercebi-me, com mais certezas, que este convívio só só lhe fará bem. «Não se preocupe mãe. Querer que lhe dêem de comer, é normal em casa, é desejo de mimo e só demonstra inteligência.» - mas eu não estava preocupada. O Afonso sempre foi muito mais inteligente do que eu. Desde pequeno que diz que quer ser bebé, e eu em contrapartida sempre quis crescer. Lembro-me de deixar de ouvir as cassetes dos Onda Choc depois da minha prima Ana, que tem a mesma idade que eu, me dizer que era demasiado infantil. Queria ouvir música moderna e no meu quarto as cassetes espelhavam todas, a minha real idade. Essa minha prima sempre viveu tudo muito cedo, inclusiva e infelizmente a viuvez.
Foi então que nesse Verão tomei uma importante decisão. Decidi tornar-me adulta, musicalmente falando, está claro. Para a Costa da Caparica, nessas férias levei o meu «My First Sony», muitas cassetes dos meus pais e algumas que fui gravando da rádio e dos filmes, com o microfone. Decorei as letras todas, no meu inlgês macarrónico e senti pela primeira vez, que estava à frente do meu tempo. Pelo menos no parque de campismo. Nessa altura costumava jogar imenso às cartas com a Marta, a arqui-inimiga que se tornou amiga do peito e que era alguns anos mais velha do que eu. Aprendi muito com ela. O crapô era o nosso grande vício, sem homens por perto, isso e a taça de fruta cheia de groselha a acompanhar. Passávamos horas a jogar e sem dar pelas tardes, que nessa altura eram gigantescas. Muitas vezes acabávamos por nem ir à praia. A nossa única e fiel companhia era a telefonia, a rádio Almada e a cassete que entretanto mudou a minha vida, a dos Queen. Nunca me olhei tantas vezes ao espelho, nem nunca fui tão honesta comigo própria como durante a minha adolescência. Conhecia todos os meus perfis, sinais, trejeitos, defeitos, anseios e medos. E recordo-me como se fosse hoje a noite em que passei a gostar de música. Depois de mais um dia de praia, do banho e da janta e de ajudar a avó Suzette com a loiça, tentava domar os meus caracóis difíceis para ir, com o enorme grupo do costume, aos carrinhos de choque, Freddie Mercury brilhava em «Princes of the Universe» e eu dei comigo a aumentar o volume e a cantar e a dançar sozinha em completo êxtase. A minha era croma foi muito boa e muito intensa a ponto de me deixar grandes saudades. Nessa altura fez-se luz e passei a entender a música de outra forma, compreendi a letra, senti-a e fiz parte dela. A música fez-me transcender e fortaleceu-me tal qual um grande amor. A partir daí a música dos crescidos tornou-se simples e natural e apaixonar-me muito menos doloroso.
É talvez por isso, e por saber tão bem, como é bom ser criança, tão genuíno e autêntico, que tenho receio de todos estes passos, que damos enquanto pais. Sim, eu sei que estamos a falar do infantário, mas para mim é, e será sempre, muito mais do que isso.
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