Vulgarmente se ouve a expressão «Não tenho palavras para agradecer». Sempre achei um contra-senso utilizar palavras para dizer que se não as tem. É claro que há dias em que somos acometidos de especial eloquência, e conseguimos convencer com sol um dia de chuva. Dias em que se ganham por argumentos e palavras feitas à medida qualquer disputa doméstica. E depois há as outras alturas em que a riqueza de vocabulário nos foge porque o bom senso não anda a par com o sentimento. As palavras inventadas nunca são suficientemente grandes, extensas, suficientes, generosas para nos exprimirmos. Talvez pela vulgaridade de já as termos dito tantas vezes antes daquela e, precisamente naquela altura, a sentirmos de forma tão única, intensa e especial, que era necessário outra palavra mais forte para nos representar. Ontem senti-o. Senti a falta de palavras no momento exacto em que senti necessidade de as dizer. Como verbalizar um sentimento que é de si maior que a palavra. Como é que se agradece uma vida?
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