21.5.10

Purga

Apetece-me aligeirar a bagagem, deitar fora metade do peso, como uma avioneta para descolar mais depressa. Quero sentir-me leve, sentir que me sobra espaço em vez de sentir que me falta arrumação. Tenho a vida em caixotes, e tenho caixotes a mais. Só me apetece levar o essencial e deitar tudo o resto fora. O essencial, mas não o essencial como num incêndio. Não levava só o Afonso, o Albino e os álbuns de fotografias, como às vezes sonho com a casa em chamas, levava o frigorífico, a cama, o berço e algumas roupas. É engraçado como há objectos que gostamos de levar logo connosco mesmo não sendo essenciais, mesmo sendo antigos, e outros que não nem nos lembramos que existem. Eu sempre achei as casas de férias impessoais, mais do que os hotéis, e no entanto era isso que eu queria hoje. Apetecia-me uma casa despida e vazia para vestir de novo. Uma casa sem cor, só com paredes. Uma casa com muitas janelas por abrir. Porque os recomeços sabem tão bem, mesmo para as relações, ainda para mais com este calor a cheirar a Verão. Hoje apetece-me purgar e começar de novo!

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