6.6.19

As minhas batalhas


Vou abordar assuntos melindrosos mas há coisas sobre as quais sinto falta de referências enquanto mãe e é urgente falar sobre elas. A dependência dos miúdos das novas tecnologias assusta e a sua escalada também. O Afonso foi começando aos poucos a jogar PS e, quando dei por mim, jogava todos os dias Fortnite.

Chegou a um ponto em que respondia mal quando era parar de jogar e em que assim que acordava queria o Ipad para ver vídeos. E por mais controlo que haja não conseguimos estar em todo o lado sempre. 

Comecei a escrever este blog como um diário, como um álbum de fotografias deles e para eles, que permanecerá depois de mim. Assim espero. E um dia quando tiverem de o ler, quero que sintam as minhas dúvidas na sua educação, as minhas batalhas e as do Carlos, e que se revejam (ou não) naquilo que um dia sentirão enquanto pais. 

Quando me divorciei procurei tudo o que consegui sobre as novas famílias, faltaram-me referências na Net. Hoje já se encontra mais informação. Mas isso fica para outro post. Hoje quero falar sobre música, e sobre um assunto que me anda a incomodar. 

Acho que sempre ouvi um pouco de tudo desde miúda. A minha avó levava-me aos fados em pequena, sempre cresci com ela a ouvir música portuguesa, mas também sempre me ofereceu discos e cassetes das bandas que eu mais gostava inglesas. Cresci a gostar de rock, mas também de rap, de heavy metal, de pop. Sempre liguei muito às lyrics, e as bandas politicamente incorrectas sempre singraram mesmo antes de eu existir. A Madonna com as suas roupas e letras provocantes, a Sinead O' Connor a rasgar a foto do Papa João Paulo II fez furor em 1992 e no mesmo ano o The Winner Looses dos Body Count era já uma música rock inteiramente dedicada às drogas. E muito antes destas, tantas outras que ficaram mais ou menos conhecidas no pós 25 de Abril. 

Porém hoje é diferente. Não quero parecer retrógrada, mas também estou farta de fingir que não percebo ou que não me importo. Dei comigo a sentir que a maioria das músicas que os miúdos hoje ouvem tem um conteúdo triste, violento e algo pobre. Não falam apenas das drogas fazem-lhes tributo. Não falam apenas de sexo sem amor, fazem-lhe propaganda. E é mesmo a palavra certa -propaganda. Porque não se trata de música sem efeitos colaterais, é música com uma batida que fica no ouvido, que passa continuamente na rádio, e que ganha prémios como os PLAY, Prémios da Música Portuguesa. 

Uma boa forma de testarmos a sua notoriedade é ouvi-los cantar o refrão, pedirem no carro as rádios de eleição, mas assim que começa uma dessas músicas, de letra duvidosa, dizerem logo para mudar, ou pararem de cantar a ver se não percebemos. Tudo isso me soa mal. O paradigma mudou? É assim tão cool fazer uma ode às drogas? Um preacher hoje é aquele que dizendo um chorrilho de disparates faz meia dúzia de referências bíblicas e por isso tá tudo bem, até pode ser professor? E porque se fazem referências a Shakespeare, ainda que numa letra pobre, isso é logo sinónimo de que o autor pretende transmitir uma «mensagem» e «educar»? Será que o autor leu de facto Shakespeare? Alguém se preocupa com isso ao entrevistá-lo? E o resto da letra? 

O que me preocupa realmente é que esta cultura de bairro, de gang, passe para os nossos e que mesmo não se identificando, se passem a identificar através desta estranha propaganda. Que achem legítimo ir ter com o dealer, chegar às 2h e ainda não sentir o efeito, ou meter a faca no cake e nunca ficar satisfeito.

Eu sou aquela mãe que já deu a sua opinião à rádio comercial e que gostava de fazer o mesmo para a MegaHits. Sou aquela mãe que lhes pergunta o que as letras querem dizer mesmo que isso os deixe encabulados. Não sou politicamente correta e mesmo que questioná-los não sirva para mais nada, espero que pelo menos sirva para os fazer pensar. Não defendo a censura, atenção, mas tudo isto me parece demasiado. Afinal a minha liberdade termina onde começa a dos outros, certo? 

E por aí? Há pais que já pararam para analisar as tabelas nacionais de streaming e que já atentaram às lyrics por detrás dos grandes hits das principais rádios em Portugal?


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