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5.11.17

Paris


Fomos a Paris em Setembro. A viagem este ano não correu tão bem como a do ano passado a Amesterdão, com ela com seis meses, mas foi igualmente inesquecível. A Constança portou-se lindamente no avião, a viagem é curta fez-se bem. O grande problema foi visitar museus, igrejas, e outros monumentos onde a calma e o silêncio seriam convenientes. Uma bebé de ano e meio não conhece o local certo, a hora certa para determinadas coisas e é necessário respeitar as suas necessidades de atenção; brincadeira; mimo; sono e fome. Não correu tão bem por isso. A bebé Constança esteve 3 horas a chorar no Museu D' Orsay, e no Panteão e no Sacrée Coeur também deu ares de sua graça. Por outro lado, como ainda é pequena para caminhar muito sozinha e já é pesada para andar sempre ao colo, o carrinho foi um extra muito necessário mas pouco compatível com edifícios antigos, metros e outros transportes. Paris é uma cidade muito maior que Amesterdão, não pudemos ir a todo o lado a pé pelo que recorremos ao Ubber muitas vezes o que encareceu um pouco a viagem. Não obstante mantenho as minhas 10 razões porque devemos viajar com crianças pequenas. 

Houve muitas outras coisas que não nos correram de feição. Ficámos várias vezes presos no trânsito por causa de manifestações. Fomos a um mercado giríssimo num dia em que estava só 10% aberto,  o Marché aux Puces de Saint-Ouen. Houve um Museu em que nos expulsaram literalmente à saída* e até o avião de regresso se atrasou horas e apanhou a hora de jantar e dormir dela, tornando-se num tremendo desafio que teríamos dispensado sem hesitar.  

Mas houve coisas tão fantásticas que dificilmente esquecerei. Explorar e perdermos-nos no Quartier Latin, Saint Germain des Prés e Montmartre, bairros encantadores e charmosos. Bebi um Champagne muito bom e que eu não conhecia, Veuve Clicquot. Encontrámos sem querer o mercado do amigo da Ámelie Poulain. Tínhamos capuccinos, cafés, chocolate quente e outras bebidas fantásticas à descrição no apartotel. E sabia tão bem chegar da chuva e do frio para um chocolat chaud a fumegar. Já para não falar nos croissants quentes e enormes que o Carlos ia comprar de manhã e que comíamos a dobrar. E as baguettes, o queijo, os patês, os macarrons e as conquilles St. Jacques. E a água tão quente do banho e a toalha aquecida no toalheiro depois de um dia de frio e chuva. E a vista da nossa janela, a praceta sem saída com um banco de jardim sempre lotado e as árvores tão altas que ultrapassavam a nossa janela. Ficámos no coração da vida boémia com um bebé, mesmo ao pé do Moulin Rouge, e de restaurantes, bares, casas mais e menos duvidosas e lojas para adultos (mas isso era já mais para a frente). E os ganchos antigos do Tombées du Camion para a Constança iguais aos que eu usava em miúda, e um pendente verde com uma andorinha dourada para o meu casaco. E o teu pedido nos Jardins du Luxembourg, atabalhoado e o meu «Oui» sincero porque é só contigo que eu quero estar. Un long dimanche de fiançailles, que seja. E os barcos a fazerem corridas no lago e a exposição de orquídeas à despedida. E um mercado em segunda mão que encontrámos sem querer e um disco do Jacques Brel riscado (mas que afinal não está) por 1€. E o Shakespeare and Company, aquela livraria histórica que visitámos à vez com vista para o Seine. E o magnífico lanche tão merecido depois de um dia a caminhar no Le Deux Magots com um café servido em jarro que dava para dois e um macarron enorme de pistácio e framboesas que se derretia na boca. E o restaurante fantástico que encontrámos sem querer num dia de chuva onde os clientes da casa guardavam o seu guardanapo, com uma entrada de abacate divinal e em que ela colaborou e dormiu. Amo-te tanto com tudo de bom e menos bom que nos acontece. Nunca fui tão feliz. 

* Escrevemos para o Museu em questão e manifestámos o nosso desagrado com o que se passou. O Museu enviou-nos dois bilhetes sem validade e um pedido de desculpas.

6.9.17

Fátima e Itália

 

Fomos a Fátima. Queria ir há tanto tempo, pedir por ela, agradecer por nós, que não pensei no papa, não pensei no 13 de Maio, nem nos outros 13. Não considerei as festas de anos, os casamentos da família, os fins-de-semana com miúdos, as aulas ou mesmo os exames. E não deu num, nem noutro, os meses foram passando e quando conseguimos ir era já Agosto. Comprámos a estadia no Inverno e só fomos no Verão, e entretanto a vida aconteceu e eu já só agradeci. Visitei Fátima como nunca tinha visitado. Acendemos velas, rezei mas também passeámos de mãos dadas e coração cheio. A Constança dormiu mal em Fátima mas comeu bem e andou sempre bem disposta. Não se pode ter tudo. Houve procissão das velas, como em todos os Sábados de Agosto. Ficámos num hotel de frente para o Santuário e a meio da noite já depois de terminada a procissão, ela ficou com ele e eu fui buscar água à fonte. Estavam jovens raparigas a rezar na capelinha das Aparições. Pessoas ainda pagavam promessas de joelhos. Estava tudo calmo e a noite estava estrelada e ali me sentei a rezar em paz, numa paz tão grande e avassaladora que me comovi. Enfim a Fé.

Recordei então este sentimento tão difícil de descrever e a primeira vez que o senti. Tinha 14 anos quando fui a Itália, descrente no meio de uma comunidade de adolescentes católicos praticantes, freiras e padres. Foram 15 dias de viagem por várias cidades de Itália, num autocarro muito grande. Dormíamos em colégios de freiras, conventos e uma vez num parque de campismo. Estávamos organizados por grupos, uns limpavam o autocarro, outros colocavam a mesa, outros cozinhavam (os mais velhos acho) e serviam as refeições. Dormíamos em sacos de cama, tomávamos às vezes banho de mangueira. Eu achava que já sabia tudo, fumava imenso, era desafiadora e atrevida. Foi uma viagem de muitas descobertas mas a maior de todas elas foi a da minha Fé.

O grupo cantava e alguns tocavam viola. Eram amigos, bondosos e brincalhões. Tinham o coração cheio de dádiva. Ainda recordo imensas canções «Guiado pela mão com Jesus eu vou, e sigo como ovelha que encontrou pastor, guiado pela mão com Jesus eu vou, aonde ele vai....». Também se rezava o Terço no autocarro e essa parte custava-me um bocadinho confesso. Havia também um correio do amigo secreto para trocarmos mensagens. Arranjámos ali uma família, uns eram pais e outros irmãos. O meu pai adoptivo era o Pedro e durante anos mantivemos contato. Acho que esteve presente na festa do meu 18º aniversário. Também tive um Crush de Verão que durou um pouco mais do que as férias, o Flávio, que para além de ter imensa graça também escrevia poesia. E uma amiga inseparável de viagem, a Rita. Uma vez tentámos fazer capuccino em pó com a água morna da torneira e não correu lá muito bem. Lembro com carinho o ritual de ir falar à noite, ler um texto, agradecer. Eu fugia sempre dessa parte envergonhada mas um dia apanharam-me já de pijama e não me safei. Porém o dia que tudo fez mais sentido para mim foi quando dormimos numa pousada nos arredores de Assis, por onde vivera São Francisco de Assis, uma casa simples com quartos cheios de camas confortáveis que acolhiam quem os visitava, no meio de um género de floresta, com uma vista linda. A religião assim fez sentido para mim, despojada e frugal. Recordo os agradecimentos dessa noite, como tudo me tocou e comoveu.

Voltando a Fátima sinto que os momentos de bondade absoluta e inocência são cada vez mais raros. O cinismo que vivemos hoje em relação a tantas coisas cria em nós uma couraça difícil de transpor. Já nos esquecemos como é tão mais fácil amar sempre. Os miúdos é que sempre nos desarmam, é neles que sinto a Fé renascer todos os dias. Num beijinho que cura tudo, num colinho bom, num «amo-te mamã» sem esperar retorno, é neste amor incondicional, crente e inocente, sem segundas intenções (às vezes também têm). O amor dos crescidos é muito mais complexo, único porém complexo. E o melhor que podemos dar-lhes é calma para que vivam em Paz, alegria para que possam ser felizes pelo exemplo, gratidão, esperança e fé para que sejam optimistas e gratos, valorizando sempre o que têm e dar de nós para que cresçam altruístas e bondosos. Afinal de contas um coração bom é muito difícil de corromper.