A Juliana foi a minha melhor amiga
na pré-adolescência. Minha confidente das primeiras paixões, a minha irmã
emprestada, a parceira das idas ao cinema ao Sábado à tarde ao
Carcavelinhos e às Palmeiras. Era ela a minha companheira dos trabalhos de
grupo, e minha aliada na falta de jeito em Educação Física (e se tinha
muito mais do que eu). Sempre foi um modelo para mim, excelente aluna, cadernos
e apontamentos sempre impecáveis. Falava várias línguas, tinha inclusivamente
aulas de alemão em casa com os irmãos, até me ensinou as poucas palavras que
ainda hoje sei. Nunca duvidei que seria uma mulher de sucesso. Partilhámos as nossas angústias de puberdade, as primeiras
borbulhas mas também as mudanças físicas mais estranhas, o desconforto de nos
adaptarmos à mudança de idade num colégio mais rígido do que seria desejável.
Éramos ambas demasiadamente magras e inseguras. Pouco antes de eu fazer 13 anos,
o pai da Juliana decidiu regressar ao Brasil, foi um enorme choque. Lembro-me de
chorar abraçada a ela no último dia num Hotel no Estoril e de prometermos à
porta do elevador que iríamos escrever uma à outra todos os dias. Fiquei doente
e perdi o apetite durante imensos dias depois dela partir. A adolescência e a
amizade têm destas coisas.
Os anos passaram e mais amigos
partiram para longe, uns cá dentro outros lá fora. Não mantenho contacto com
todos, mas é curioso que os mais importantes acabam por ficar presentes, de uma
forma ou de outra. O Afonso era ainda pequenino quando a conheceu e não se
recorda mas acha imensa graça ser uma amiga da mãe da altura da escola.
Durante os primeiros anos eu e a Ju
trocámos postais e cartas com uma frequência que embora tenha diminuído nos anos
seguintes se manteve depois disso inalterada. Nos anos e no Natal eu tinha
sempre um postal dela para ler. Contámos uma à outra as coisas mais importantes
da nossa vida por carta e em todas as que abri chorei de saudades. O
aparecimento da Internet revolucionou a minha noção de proximidade, e pensando
bem acabei por manter a minha promessa porque todos os dias lhe escrevo. Foi
assim que ao fim de 15 anos fui buscar a Juliana ao aeroporto de Lisboa e ao
final de 5 minutos parecia que nunca tinha estado longe dela. Depois disso já
nos revimos outras vezes. Casei, fui mãe, mudei de casa, descasei e ela quase
casou, mudou de emprego e deu a volta ao mundo. E hoje depois de mais um período
de ausência a Ju chega ao pé de mim outra vez e eu sinto-me de novo adolescente,
ansiosa e feliz com a expectativa da sua chegada.
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