Sonho sempre com a casa da Terplana, a primeira que me recordo de habitar. No entanto, depois disso fomos para S. João e lá vivi até ter a minha casa. Passei lá a adolescência, e lá me tornei mulher. No meu quarto pintei um graffiti. Nesta casa estudei, fiz o liceu e a faculdade e aprendi a jogar snooker, fiz biscoitos de Natal, promessas, rezei, sorri, e chorei. Vivi anos maravilhosos e tive imensa sorte com as pessoas que se cruzaram no meu caminho. Custa-me imenso no entanto visitar o meu antigo quarto, sinto sempre uma mistura entre nostalgia, saudade e ausência. Sim, porque eu já não pertenço ali. Quando a minha mãe me perguntou esta semana se eu queria ir para lá uns dias, não me fez sentido, porque é aqui que me sinto em casa. Nesta nova, que me parece que foi minha toda a vida.
Sou muito saudosista, e o passado deixou-me e deixa-me imensas saudades e vontade de regressar. Todas as pessoas, todos os sítios, todas as aventuras. A minha lambreta. Quando decidi fazer teatro amador. Os meus álbuns de fotografias, os meus quadros. Tenho saudades de muitas pessoas e de algumas que vou revendo. Hoje foi dia de almoçar com o pai, de brincar na relva. Hoje fui ao meu antigo armário buscar calças de ganga que não vestia há anos. Calças de outros tempos.
Talvez porque esta semana o futuro me pareça tão incerto, o passado me pareça um lugar tão mais seguro.
Quando regressei a casa estive a apanhar ervas daninhas. Acalma-me tanto quanto a máquina de tirar borbotos. Descobri um escaravelho. Fiquei feliz, dizem que dá sorte. Peguei nele não queria que as formigas mo levassem, era esverdeado e brilhante. Coloquei-o na bancada da cozinha, não me perguntem porquê. No final do dia, depois do sol se pôr, vi-o a descer a escadas da cozinha para o quintal. Estava vivo e a regressar a casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário